postado em 16/05/2016 14:18
Alunos do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, anunciaram nesta segunda-feira (16/5) a desocupação do colégio. A escola foi a primeira unidade da rede estadual de ensino a ser ocupada no dia 21 de março último por estudantes com o objetivo de apoiar a greve dos professores e pedir melhorias na qualidade da educação.
Porém, durante o anúncio feito no auditório, houve uma confusão entre o chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), Caio Castro Lima, e a professora de Geografia do Mendes de Moraes, Alessandra Bruno. Após a discussão, Castro Lima pediu exoneração do cargo.
A discussão se deu quando um boato de um suposto ataque de alunos contrários à ocupação se espalhou entre os presentes. A professora acusou Lima de incitar ataques ao colégio e chamou o chefe de gabinete de fascista. Ele retrucou com dedo em riste, ordenando que a professora calasse a boca. A partir daí, os estudantes se revoltaram e colocaram Caio Castro Lima para fora do colégio à base de protestos. Lima se defendeu.
;Eu não sou obrigado a tolerar desrespeito. Tudo estava indo bem, mas não vou aceitar nunca ser chamado de fascista. Uma coisa é o fato de eu representar uma organização e eles a hostilizarem. Bem diferente é me atacarem pessoalmente. Tenho família e entes queridos que gostam de mim. Eu mandei que ela se calasse porque é uma pessoa extremamente desequilibrada, que sequer deveria estar presente nas negociações. A maioria dos alunos é menor de idade, ela não. Ela deveria saber o que fala e com quem fala para não ficar inflamando os estudantes;, desabafou.
Desdobramentos
O chefe de gabinete declarou que isso afeta bastante a relação da Seeduc com os alunos do Mendes de Moraes. ;Não tenha dúvida que afeta. Eu me dispus a vir aqui sozinho, de peito aberto, para participar do anúncio e sou recebido assim. A sociedade tem que ver isso e analisar se, de fato, é isso que se quer;, disse, com relação ao movimento. A professora envolvida na confusão recusou-se a falar com a imprensa.
O aluno do Mendes de Moraes, João Victor da Silva, que cursa o 3; ano do ensino médio na unidade, repudiou a atitude de Caio Castro e disse que o episódio ilustra o ;baixo nível; da secretaria. ;Nunca que ele vai mandar um professor calar a boca dentro da escola. Isso mostra o baixo nível que é a Secretaria de Educação. Eles acham que temos medo deles, mas eles que tem que nos temer. Mostramos com a ocupação do que somos capazes. Temos o poder de pensarmos sozinhos e tomarmos nossas atitudes seguindo o que acreditamos;, disse.
Vitórias
Com relação à desocupação, antes da confusão João Victor havia comunicado que o movimento se retira do colégio pela quantidade de pautas atendidas pela Secretaria de Educação, mas não deixa de participar da luta dos outros colégios ainda ocupados.
;Estamos desocupando com muita alegria porque podemos passar o nosso poder de organizar, agir,etc. Foram 56 dias de muita resistência, mesmo debaixo de ataques de todos os lados. Grande parte das nossas pautas foi atendida e isso é uma grande vitória. O Mendes foi a chave que abriu a porta para o restante da luta e seria injusto abandonarmos essa causa. Saímos daqui, mas continuamos com os nossos irmãos nas outras escolas;, garantiu.
João Victor revelou que a secretaria estabelecerá uma comissão de visitas em cada escola que foi ocupada para analisar o que cada unidade precisa, além de um documento expedido pelo órgão garantindo as reformas. Cada colégio receberá R$ 15 mil para essas obras emergenciais. ;É um valor miserável, concedido com muita má vontade pela secretaria. Mas foi o que conseguimos com muito suor e luta;, disse o estudante.
Além disso, outras conquistas dos alunos foram a exoneração do diretor do Mendes de Moraes, Marcos Madeira, fim do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (Saerj) e a reunião da secretaria com os representantes dos 68 colégios ocupados pelo movimento.