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Após caso bárbaro, mulheres fazem "gritaço" contra naturalização do estupro

Campanha começou depois que internautas debocharam e compartilharam um vídeo de uma garota nua e dopada que teria sido estuprada por 30 homens

Alessandra Melo
postado em 26/05/2016 15:54
Coletivos de feministas lançaram hoje um ;gritaço; nas redes sociais contra a naturalização do estupro. O movimento começou depois da divulgação de um vídeo de uma garota desacordada e nua, vítima de violência sexual no Rio de Janeiro. A ideia da campanha é reunir mulheres de todas as partes do Brasil gritando não contra o machismo, a misoginia e a violência contra as mulheres e em solidariedade à garota alvo da violência. A atriz Letícia Sabatella aderiu ao protesto.

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Postado nas redes sociais na terça-feira, o vídeo com imagens chocantes viralizou na internet. A Polícia Civil e o Ministério Público fluminense investigam o caso e também a divulgação e o compartilhamento das imagens. Muitos internautas postaram o vídeo nas redes sociais como se não houvesse nenhum tipo de problema e ainda escreveram comentários agressivos contra a garota, já identificada, que tem apenas 17 anos.

[SAIBAMAIS];A ideia surgiu de discussões de coletivos feministas indignados com a forma como o caso foi tratado por algumas pessoas;, conta Manoela Miklos, feminista, doutora em Relações Internacionais e criadora da campanha #AgoraÉQueSãoElas, em que mulheres ocuparam o espaço de escritores e jornalistas homens durante uma semana em março, no mês do Dia Internacional da Mulher.

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;A gente ficou pensando em frases de efeito para tentar expressar nossa indignação, mas no fim decidimos que deveria ser mesmo um não. Já tentamos mil vezes explicar que isso é crime, não temos mais o que fazer. É não mesmo;, relata. A intenção é juntar vários desses vídeos em um só e postar um ;gritaço; nacional hoje as 20h nas redes sociais com as hashtags #estupronuncamais #nãopassarão, explica Manoela, uma das articuladoras da ação, que envolve mulheres do Brasil inteiro.

Uma das apoiadoras é a filósofa e idealizadora da PartidA, um movimento que pretende criar um partido feminista brasileiro, Márcia Tiburi. Para ela, o estupro tem que ser olhado como uma questão cultural para entender o motivo de o caso dessa garota não ser visto com indignação por todos. ;Temos que aprender a olhar para o estupro como uma questão cultural. Na experiência cultural costumamos naturalizar tudo aquilo que se torna comum, diário e cotidiano. Tudo aquilo que não é questionado;, afirma Márcia.

Segundo ela, por isso têm pessoas hoje rindo com o que aconteceu com a garota que foi estuprada no Rio de Janeiro. ;Pessoas que riem disso são aquelas pessoas que naturalizaram justamente esse dado cultural, mas ao mesmo tempo nós não podemos naturalizar a ideia de que os homens são estupradores por natureza porque eles não são. As pessoas são criadas, educadas, formadas, generificadas, subjetivadas dentro do contexto cultural e da tradição que elas vivem, por isso precisamos combater a cultura do estupro contra toda forma de naturalização;, defende a filósofa. Quem também aderiu ao protesto foi a atriz Letícia Sabatella.

Segundo dados do governo federal, no Brasil acontecem oito estupros por dia ou um a cada três horas, em média. Os números foram coletados pelo Disque 180, a central de atendimento à mulher da Secretaria de Mulheres.

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