A Polícia Civil do Ceará está investigando um possível caso de violência sexual em Quixeramobim, envolvendo um padre e uma adolescente de 15 anos, atualmente grávida. O caso ganhou repercussão na cidade na última semana, quando o bispo da Diocese de Quixadá, dom Angelo Pignoli, divulgou nota pública informando o afastamento do padre Vitoriano Campos Ambrósio, citado no escândalo.
Segundo a nota, o padre Vitoriano ;está suspenso cautelarmente do exercício do ministério sacerdotal e responderá a processo jurídico canônico perante a Santa Sé;. O texto Informa ainda que o padre foi destituído do ofício de pároco até o fim do processo canônico.
Em entrevista à Agência Brasil, dom Angelo disse que foi procurado pelo padre no dia 18 deste mês, após os fatos terem repercutido na mídia local. Na ocasião, o padre Vitoriano confessou que pode ser o pai da criança.
Assim que soube do ocorrido, o bispo procurou a família da vítima para conversar ;sobre a melhor maneira de superar a crise;. Dom Angelo contou que se encontrou com a menina, com a família dela e com paroquianos para esclarecer a situação. ;Claro que escândalo é escândalo. Para a Igreja, é um choque muito grande, mas temos que compreender esse momento com muita verdade e assumindo com retidão a responsabilidade.;
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O bispo disse que compartilhou com a família da adolescente a preocupação com a forma com que o o caso poderia ser divulgado pela imprensa, o que, segundo ele, poderia ;expor a menina;. ;A mídia quer fazer barulho e hoje há muito sensacionalismo;, afirmou dom Angelo.
Ele disse que não sabia que havia uma investigação da Polícia Civil em andamento e que a Igreja tem colaborado no caso. ;Tentamos atender as partes todas para que se faça a justiça das coisas ; eu nem sabia que estavam tomando providências nesse sentido. É a mídia que às vezes pressiona as coisas, e então o delegado é obrigado a se manifestar.;
;O que queremos não é fazer barulho, é atender as pessoas. Mexemos com pessoas, pessoas que erram ; porque o erro existe das duas partes. Sabemos que a parte vulnerável é aquela que temos que proteger mais, mas o outro [o padre] também é pessoa." Dom Angelo ressaltou que o padre deve estar muito desorientado, porque preparou-se para ser padre e agora vai ter que deixar o ministério.
"Então, aí, embora ele tenha a idade que tem, e tenha, digamos, responsabilidades muito maiores nesse sentido, nós temos que ajudar também o padre a se posicionar na vida e ter como fazer frente a essas responsabilidades, não é? Porque senão nós jogamos as pessoas na rua... E, claro, não estou aqui querendo encobrir nada, mas que ele possa ter as condições... Isso a família entendeu perfeitamente, porque, se ele fica na rua sem ter recurso nenhum, como ele vai ajudar depois e assumir as responsabilidades econômicas da criança?;, destacou o bispo.
Dom Angelo também esclareceu que a responsabilidade financeira pela criança, se for confirmada a paternidade, é do padre Vitoriano Campos Ambrósio, não da Igreja. ;Já ofereci para a moça a nossa maternidade, acompanhamento psicológico e pré-natal. Temos a estrutura montada, e ela aceitou ser acompanhada por aqui. Agora, a responsabilidade econômica, quem tem que arcar é o próprio padre que errou e tem que assumir.;
Investigação
Não houve denúncia formal por parte da família da vítima. Na semana passada, o delegado da Polícia Civil de Quixeramobim, Salviano de Pádua, pediu ao conselho tutelar da cidade que procurasse a jovem e elaborasse um relatório que será apresentado ainda nesta semana e pode auxiliar na tipificação do que avalia ser um crime. ;A partir desse relatório, eu vou ouvir a vítima, acompanhada por responsável, e as testemunhas. Por ela estar grávida, não serão necessárias provas de que houve conjunção carnal. Eles já vão me trazer uma declaração médica que atesta a gravidez;, explicou.
O delegado informou que ainda não sabe o tempo de gravidez, nem conhece as circunstâncias do caso, como, por exemplo, quando começou a possível violência sexual. ;A partir do relatório, vou ouvir a vítima e as testemunhas e investigar se houve conjunção carnal antes dos 14 anos de idade;, disse Pádua. Nesse caso, a violência será tratada como crime de ação pública incondicional, que independe de denúncia da família da vítima.
Conforme o Código Penal Brasileiro, ter conjunção carnal ou praticar atos libidinosos com menor de 14 anos é crime, chamado de estupro de vulnerável. A pena prevista para esses casos é de oito a 15 anos de reclusão.
No caso de Quixeramobim, se o fato ocorreu após os 14 anos da vítima, a tipificação será outra. ;Padres não respondem por assédio sexual, mas há outras tipificações. Se não for estupro de vulnerável, ele poderá ser enquadrado em outra tipificação, mas para isso precisa ser conduzida a investigação;, esclareceu o delegado.
Salviano de Pádua informou que ainda não ouviu a adolescente, mas conversou na semana passada com a mãe dela. A mãe da jovem disse ao delegado que a gravidez causou grande surpresa na família porque a adolescente era religiosa e frequentava a igreja com regularidade desde pequena.
Para o delegado, a menor enfrenta uma situação de fragilidade social, por ser filha de pais separados e de baixa renda. Além disso, como a mãe mora em outro estado, a jovem vivia com a avó paterna.;A mãe me disse que a menina sempre foi muito religiosa e vivia na igreja. Com uma família desestruturada, ela foi procurar refúgio na Igreja. E lá encontrou um padre que se aproveitou de sua fragilidade;, disse Pádua.