Ana Dubeux
postado em 31/07/2016 09:18
O terror, por si só, enclausura. É capaz de trancafiar corações e mentes numa jaula. Às vésperas das Olimpíadas no Brasil, o terrorismo arromba as portas do mundo e da nossa casa. É certo que vivemos tempos sombrios. Mas existe algo capaz de transpor a expectativa do medo, ainda que ela seja real. Falo da emoção. Ela há de ser mais forte que o pânico de vivermos num planeta inseguro, no qual a paz começa a ser vista como sonho a ser perseguido.
Os atletas chegam aos poucos e nos enchem de alegria. A cada delegação que desembarca, somos açoitados por uma imagem de Brasil contraditória. Ao mesmo tempo em que os saudamos, temos de assistir aos vexames das obras inacabadas, da insegurança, da chantagem de categorias profissionais por reajustes, da verborragia indecente dos políticos. Dos burocratas, gestores incompetentes, políticos desonestos e empreiteiros que não cumprem contratos, herdaremos o vexame das Olimpíadas. Mas os atletas nos honrarão com imagens edificantes, que inundarão nossos corações de emoção.
Minha memória do esporte está definitivamente atrelada às imagens que vi de jogos olímpicos passados, de copas do mundo, de competições esportivas em geral. Comecei a gostar de esporte aos 9 anos, ao assistir a momentos eternos pela televisão ou nas arquibancadas do estádio, onde me afeiçoei para sempre ao meu Santa Cruz. Ganhei ali emoções para uma vida inteira e continuo a ganhar cada vez que prego os olhos num atleta diante de seu desafio. Jamais esquecerei ; e acho que todos os meus contemporâneos neste mundo também se recordam ; da imagem da suíça Gabriele Andersen chegando para completar a maratona nas Olimpíadas de Los Angeles, a primeira vez que a prova feminina foi incluída nos jogos, em 1984. Diante dos nossos olhos, ela caminhava com dificuldade, se contorcendo, cheia de dores e cãibras, para cruzar a linha de chegada num estado de completa exaustão. Creio que hoje poucos se lembram de quem ganhou a medalha, mas jamais seremos capazes de apagar o épico esforço daquela atleta. Um exemplo de determinação para a eternidade.
Certamente, teremos a chance de ver de perto imagens de tirar o fôlego. E isso precisa ser valorizado. Esses homens e mulheres, gigantes só por terem conseguido estar aqui, precisam ser recebidos com carinho e alegria. Precisam ser vistos como heróis cotidianos, como exemplos para as crianças. O esporte salva, é vibrante. Que todos nós nos inspiremos no espírito olímpico ao menos nestas três semanas. Deixemos os medos e a covardia de lado. Sejamos épicos.