Agência France-Presse
postado em 01/08/2016 16:15
Folhas de manjericão, tomates caqui e perfume de limoeiro: uma pequena horta comunitária, no alto de um edifício em São Paulo, faz parte de uma ideia pioneira que transforma toneladas de lixo orgânico em adubo para terra.[SAIBAMAIS]A criadora deste projeto é a jornalista Fernanda Danelon, de 43 anos, que após um período de crise vocacional decidiu dar uma guinada e criou, há dois anos, o Instituto Guandú, dedicado a reciclar os desperdícios de restaurantes e a assessorar estes estabelecimentos na montagem e manutenção de hortas.
"Começamos há dois anos com um, e agora já temos 17 restaurantes que são nossos sócios. E estamos conversando com outros 10", conta Fernanda à AFP, enquanto mexe na terra com uma pá no frondoso pátio da sua própria casa, em São Paulo.
Fernanda mantém em casa dois pequenos depósitos onde elabora adubo com resíduos do consumo familiar. É uma amostra do que é realizado a grande escala em instalações a cerca de 50 km de São Paulo, onde o lixo orgânico é transformado em um fertilizante que depois volta a ser utilizado nos restaurantes.
É uma "técnica tradicional de compostagem", que não utiliza enzimas nem nenhum outro acelerador, como minhocas, mas que requer cuidados para misturar o lixo orgânico com a terra e oxigenar o composto apropriadamente, de modo que os elementos não apodreçam durante o processo, que dura entre três e quatro meses, explica Fernanda.
No início, a ideia se resumia a montar pequenas hortas para abastecer os restaurantes, mas aos poucos Fernanda foi percebendo que os resíduos eram uma parte fundamental desta cadeia. E assim surgiu o Instituto Guandú, um centro especializado no ciclo completo: desde retirar o lixo até transformá-lo em adubo, que por sua vez é usado para manter as hortas.
"No início eu mesma recolhia o lixo com o meu carro", conta Fernanda, rindo. "Mas fomos crescendo e hoje reciclamos entre 30 e 40 toneladas de lixo orgânico por mês", acrescenta.
Meta distante
Em 2014, foram produzidos no Brasil cerca de 78,6 milhões de toneladas de "resíduos sólidos urbanos" (restos orgânicos, plásticos, vidro, papel e cartão), um aumento de 2,9% em relação ao ano anterior, segundo o relatório mais recente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O rico estado de São Paulo, motor econômico do Brasil e onde vivem mais de 40 milhões de pessoas, é de longe o que mais produz lixo no país. E, segundo o Ministério do Meio Ambiente, mais de 50% desses resíduos são orgânicos.