postado em 13/08/2016 15:02
Um caso recente de trombose cerebral relacionado ao uso de pílula anticoncepcional reacendeu nas redes sociais a discussão sobre os riscos do uso de métodos contraceptivos hormonais. A estudante Juliana Bardella, 22 anos, acordou um dia sem conseguir se mover, foi diagnosticada com trombose, passou 15 dias internada e após a recuperação compartilhou sua história nas redes.Depois disso, vários outros depoimentos foram compartilhados, como o de Gabriela Abu El Haj, que aos 25 anos teve trombose venosa profunda na perna, provavelmente por causa do uso da pílula.
;Foi um espanto para todo mundo. Sou meio natureba, não tenho histórico de trombose na família, nem de hipertensão, nunca fumei e não tenho outros fatores de risco. Fiz até o teste genético para saber se tenho mais risco de ter trombose e deu negativo;, contou Gabriela à Agência Brasil.
A funcionária pública, que hoje tem 28 anos, tomava pílula desde os 17 e relatou que poucos dias depois de fazer uma viagem de sete horas sentiu dores na perna e inchaço. Ao fazer uma ressonância, descobriu o coágulo na perna direita. Depois de consultar um hematologista e um angiologista, ambos relacionaram o problema ao uso da pílula combinado com o longo período que ela ficou sentada em uma mesma posição.
Gabriela reclama que não recebeu informação dos ginecologistas que consultou ao longo da vida sobre os riscos do medicamento. ;Eu sempre tentava conversar com a ginecologista, com medo dos efeitos, pensando em parar, já que todo mundo fala que colocar hormônio no corpo não é bom, mas a resposta sempre era que não tinha problema. Os médicos deveriam apresentar os riscos.;
Já a funcionária pública Flora Maravalhas, 32 anos, não teve problemas sérios com o uso da pílula, mas como sentiu alterações no organismo em cerca de um ano de uso, preferiu mudar o método. ;Senti o corpo diferente, ficava inchada, intestino solto, emocionalmente frágil, sensível. Foi quando ouvi falar de um método contraceptivo no qual você mede sua temperatura e a partir de uma série de informações calcula se você tem chances de engravidar;, contou sobre o método adotado ha cerca de um mês.
Alternativas
Segundo a ginecologista Marli Virgínia Nóbrega, ao contrário de medicamentos que são usados para curar algo que está errado ou reestabelecer uma função do corpo, a pílula hormonal serve para ;atrapalhar; a função natural do organismo, alterando o funcionamento dos ovários. ;Esses hormônios têm consequências que vão além de evitar engravidar. Fenômenos tromboembólicos, mais chance de trombose, de ter um AVC [Acidente Vascular Cerebral];, lista a médica. Segundo ela, a perda de libido também é um efeito comum em quem usa contraceptivos hormonais.
A especialista defende formas alternativas para evitar a gravidez, como o Método Billings, que consiste na observação do muco cervical, e também o método da medição da temperatura, que indicam se a mulher está no período fértil.
;É preciso que o profissional explique detalhadamente os métodos. Se eles forem bem executados, as chances de erros são menores do que as do uso da pílula. Além disso, as mulheres passam a conhecer melhor o próprio corpo.;
Ferramenta válida
Por outro lado, o ginecologista e professor da pós-graduação em ginecologia e obstetrícia da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Carlos Cunha, considera os anticoncepcionais hormonais boas ferramentas para o planejamento familiar, porém, alerta que o uso deve ser feito com indicação médica.
;Temos que ver o fundamento destes relatos do ponto de vista científico. A pílula é um medicamento, e como qualquer outro, tem que ser bem indicado e tem riscos e benefícios. Quando a gente indica a pílula, precisa fazer avaliação do histórico familiar com tromboembolismo, problemas relacionados a hipertensão, diabetes;, explicou.
O especialista destaca que, como a pílula anticoncepcional é um dos medicamentos mais usados no mundo, é natural que surjam relatos de efeitos colaterais. ;O maior problema da pílula é usar sem indicação médica.; Cunha ressalta a necessidade de exames clínicos e observação de fatores como obesidade, hipertensão, alteração de colesterol, taxa de triglicerídios, diabetes e hipertensão antes da indicação de uso de hormônios. ;Uma série de avaliações clínicas vão dizer se ela tem contraindicações. Às vezes ela tem contraindicação para pilula, mas pode usar DIU [dispositivo intrauterino].;
Para o especialista da UnB, não existe método ideal para evitar a gravidez. A indicação vai depender da fase da vida pela qual cada mulher está passando. ;Se é jovem, se quer ter filho logo ou daqui a dez anos, se está amamentando, se tem histórico familiar dos fatores de risco. Tudo isso vai influenciar no método a ser indicado.;
Os riscos de uma gravidez inesperada, segundo o especialista, também devem ser considerados. ;A gravidez indesejada muitas vezes acaba levando a procura pelo abortamento, e abortamento no Brasil é ilegal, sem segurança, o que pode levar a mulher a sequelas graves e até a morte;, alerta.
Anvisa
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou esta semana que o risco de formação de coágulos associado aos contraceptivos depende do tipo de hormônio progesterona presente no medicamento.
;Mulheres que usam anticoncepcionais contendo drospirenona, gestodeno ou desogestrel têm um risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso, em um ano, do que as mulheres que não usam contraceptivos hormonais combinados;, alertou a agência, em nota.
No entanto, a Anvisa ressalta que, até o momento, os benefícios dos anticoncepcionais na prevenção da gravidez continuam a superar seus riscos. Além disso, os riscos de eventos como trombose envolvendo todos os contraceptivos orais combinados é conhecidamente pequeno, segundo a agência.
A recomendação da Anvisa é que as mulheres façam exames e considerem o histórico familiar antes de iniciar o uso de qualquer contraceptivo hormonal. Os exames clínicos precisam ser repetidos pelo menos uma vez ao ano durante o uso de medicamentos contraceptivos.