Brasil

Declaração de ministro da Justiça provoca reação no meio acadêmico

Alexandre de Moraes afirma que o Brasil precisa de menos pesquisa em segurança e mais armamento

Natália Lambert
postado em 18/08/2016 06:41
Ministro da Justiça diz que prioridade é investir em equipamentos bélicos

Baseado em história real, o filme O jogo da imitação, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 2015, conta a história do matemático britânico Alan Turing, que, com um grupo de acadêmicos, decifra o código que os alemães usavam para enviar mensagens de ataques aos submarinos na Segunda Guerra Mundial. A contribuição de Turing para a vitória dos aliados é inquestionável. No Brasil, 71 anos depois do fim do confronto, a importância do conhecimento científico na estratégia da segurança pública foi colocada em xeque. Em declaração na Cidade da Polícia, no Rio de Janeiro, na terça-feira, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que o Brasil precisa de menos pesquisa em segurança e mais armamento.

[SAIBAMAIS]Para o sociólogo e coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp/UFMG), Claudio Beato, o ministro demonstrou uma ;ignorância atroz; em relação ao funcionamento da segurança pública e da própria indústria bélica. ;Não existe desenvolvimento sem pesquisa. Nem a indústria da guerra prescindiu em algum momento da história mundial do conhecimento acadêmico. Não há como uma coisa funcionar sem a outra. Inclusive, a nossa indústria bélica precisa muito de pesquisa para desenvolver armamentos melhores para os nossos policiais;, comenta Beato.



De acordo com dados do Atlas da Violência, o Brasil lidera o ranking dos países que mais matam no mundo. Só em 2014, foram 59.627 homicídios. Mesmo assim, ainda não se consegue produzir no país uma taxa de esclarecimento destes crimes, os mais bem registrados e documentados pelas polícias, nem de reincidência criminal, por exemplo. De acordo com o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP) André Zanetic, isso demonstra a falta de incentivo, investimento e prioridade que a pesquisa tem no campo da segurança pública.

;É uma declaração (do ministro) que causa estranheza já que o investimento é mínimo. Ele contradiz tudo o que o conhecimento mundial diz sobre a segurança pública. Precisamos melhorar a qualidade da informação, que é muito aquém da necessária;, diz Zanetic. Em 2014, a União gastou pouco mais de R$ 8 bilhões com segurança pública. De 2011 a 2014, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o governo federal aumentou o investimento em informação e inteligência de R$ 98 milhões para R$ 464 milhões ; valor referente a 5,8% do total destinado para o setor.

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