Jornal Correio Braziliense

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Geneton Moraes deixa livros e filmes para construção da memória do país

O pernambucano Geneton Moraes Neto era um grande entusiasta do jornalismo em todas as suas formas



A insatisfação com o superficial e a vontade de esbarrar numa verdade nem sempre aparente levaram Geneton a não se satisfazer com qualquer resposta. Ele contava que, quando começava uma entrevista, costumava sempre se perguntar: ;Por que será que esses bastardos estão mentindo para mim?;. Isso o ajudava a se manter alerta para o valor da notícia. Geneton lamentava que o jornalismo contemporâneo sofresse do que chamava de Síndrome da Frigidez Editorial. Uma doença terrível, segundo ele. ;É assim: por natureza, o jornalista passa a vida lidando com o que é extraordinário. O problema é que, depois de lidar com o extraordinário durante anos a fio, o jornalista corre o sério risco de achar que o extraordinário é ordinário;, explicou, em entrevista ao Correio.

Essa postura, ele mantinha desde pequeno. Aos 10 anos, gostava de se sentar no muro de casa, em Recife, e anotar as placas de carros que passavam. Transformava o ordinário em extraordinário. Quando participava de campeonatos de futebol de botão, fazia um pequeno jornal no qual narrava as partidas. Mas foi aos 16 que a coisa ficou séria. Em 1972, o adolescente precoce foi trabalhar na editoria Geral do Diário de Pernambuco e deu oficialmente os primeiros passos no que se tornaria uma vida dedicada à paixão pelo jornalismo.

A carreira no Diário de Pernambuco durou três anos. Em 1975, Geneton foi trabalhar na sucursal de O Estado de S. Paulo, antes de integrar a equipe da Rede Globo, emissora da qual nunca mais saiu. Nos últimos 10 anos, como repórter especial do canal GloboNews e editor do programa Dossiê, o pernambucano colecionou alguns dos melhores momentos do jornalismo brasileiro. Antes da GloboNews, Geneton foi editor do Jornal da Globo, Jornal Nacional e Fantástico. Durante alguns anos, viveu em Londres como correspondente de O Globo.

Livros
; Caderno de confissões brasileiras: dez depoimentos, palavra por palavra (Editora Comunicarte,1983)
; Cartas ao planeta Brasil (Editora Revan, 1988)
; Hitler/Stalin: o pacto maldito (em parceria com Joel Silveira - Editora Record, 1990)
; Nitroglicerina pura (em parceria com Joel Silveira - Editora Record, 1992)
; O Dossiê Drummond (Editora Globo, 1994)
; Dossiê Brasil (Editora Objetiva, 1997)
; Dossiê 50: os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro
(Editora Objetiva, 2000)
; Dossiê Moscou (Geração Editorial, 2004)
; Dossiê Brasília: os segredos dos presidentes (Editora Globo, 2005)
; Dossiê História (Editora Globo, 2007)
; Dossiê Gabeira (Editora Globo, 2009)
; O livro das grandes reportagens (Organizador - Editora Globo, 2006)
; Diário do último dinossauro (Organizador - Travessa dos Editores, 2004)

Documentários

; Canções do exílio (2011) ; Série em três partes reúne os depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé e Jorge Mautner sobre cárcere e exílio durante a ditadura.
; Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças (2013) ; Primeiro documentário de longa-metragem exibido na GloboNews, reúne entrevistas gravadas ao longo de dos 20 anos de convivência de Geneton com o jornalista Joel Silveira.
; Dossiê 50: comício a favor
dos náufragos (2013) ; O filme traz entrevistas com todos os 11 jogadores da Seleção Brasileira que participaram da final da Copa de 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai no Maracanã.
; Cordilheiras do mar (2015) ; No documentário sobre Glauber Rocha, Geneton não aborda a produção cinematográfica do artista, mas questões políticas relacionadas ao cineasta, que chegou a elogiar o militar Ernesto Geisel durante a ditadura, em correspondência com Zuenir Ventura.
; Boa noite, Solidão (2016) ; Aqui, o diretor conta a histórias de pessoas do município de Solidão, no Sertão de Pernambuco, que preferiram se manter no interior em lugar de ir para um grande centro. A escolha da cidade foi aleatória: Geneton achava o nome curioso.

Prêmios
; Embratel de Telejornalismo (2010), pelas entrevistas com os generais Newton Cruz e Leônidas Pires Gonçalves
; Medalha João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras (2012), como destaque na área da cultura