Agência Estado
postado em 04/09/2016 21:05
Os manifestantes que protestam contra o governo Michel Temer neste domingo (4/9) chegaram por volta das 19h30 ao Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Por volta das 20h40, policiais soltaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar pessoas que estavam cometendo atos de vandalismo no local, quebrando vidros e espalhando restos de lixo na rua. Houve correria e ao menos 10 bombas foram lançadas. Duas viaturas do Choque avançaram pela Avenida Faria Lima, e a PM jogou jatos de água nos manifestantes na Rua Teodoro Sampaio. Por volta das 21h o Largo da Batata estava vazio, enquanto os manifestantes continuavam a dispersar pelas ruas do bairro de Pinheiros.
Mais cedo, eles ocuparam parte da Avenida Paulista, onde o protesto era pacífico. "Não realizamos nenhum atendimento, nem relacionado ao protesto, nem qualquer outro tipo", disse Brian Farias, de 26 anos, enfermeiro do Grupo de Apoio ao Protesto Popular, que presta socorro em casos de violência.
Às 20 horas, um grupo grande da manifestantes começava a dispersar pela estação de metrô Faria Lima, aos gritos de "Olê, olê, fora, Temer", e "olê, olê, olá, Diretas Já".
[SAIBAMAIS]"O governo golpista de Michel Temer falou em cerca de 40 pessoas neste protesto. Somos 100 mil pessoas", disse Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST, um dos organizadores do ato, em discurso por volta das 17h. O último número oficial divulgado pela organização é, porém, de 50 mil manifestantes. A PM ainda não estimou a quantidade de presentes.
Além do "Fora, Temer", os gritos que mais se escutavam eram pela desmilitarização da polícia. "Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar". Até por volta das 18h, a reportagem não havia verificado a presença de Black blocs.
Aos gritos de "Fora, Temer", e "Golpistas, não passarão", os manifestantes percorreram a via em direção à Rua da Consolação, e depois desceram a Avenida Rebouças até o Largo da Batata. Os organizadores do ato, as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, orientaram as pessoas a "não reagirem a provocações". "Já vamos sair desse ato com um novo protesto marcado", disse Boulos. "Quem acha que acabou não entende nada da história de resistência democrática deste País."
O protesto começou pacífico, com muitas famílias presentes no local. A musicista Nina Blauth, de 53 anos, trouxe o filho Matias, de 5, para acompanhar o ato. "No dia em que houve o golpe, ele me viu triste e disse: ;Não fica assim, mãe, a gente pode se manifestar e pedir pra mudar", ela disse. "Esse é o momento de mostrar para ele que vivemos numa democracia e podemos sim lutar pelo que acreditamos em paz."
Entre os políticos que foram ao ato estão o ex-senador Eduardo Suplicy (PT), a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), candidata a prefeita de SP, e o senador Lindbergh Farias (PT). Suplicy e Erundina não discursaram, mas foram muito aplaudidos.
Lindbergh disse que veio do Rio porque São Paulo "está sendo o principal centro de resistência ao governo Temer" e que veio para "formar uma barreira contra a violência policial". "Eu e o Paulo Teixeira estamos estudando uma representação para entrarmos na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA contra a atuação da PM na repressão dos manifestantes", afirmou. "Temer na China falou em pacificação. Mas não existe possibilidade de pacificação com Temer, por ter sido seu governo fruto de um golpe, e também pelo projeto, um plano violento contra os trabalhadores. Só há um jeito de o País se reencontrar, que é consultando o povo, consultando a população. Por isso a bandeira das Diretas Já", defendeu.
Quando a passeata chegou no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, já no início da noite, as luzes do viaduto que leva à Avenida Rebouças foram totalmente apagadas. Três carros da tropa de Choque e quatro viaturas da PM passaram segundos depois. Muitos manifestantes decidiram encerrar seu protesto nesse momento. "Eles fazem de propósito, para dispersar o protesto quando chega aqui", disse Antonio Silveira, garçom de um restaurante perto dali. "Já estava na hora de voltar para casa mesmo, mas dá receio da forma como a polícia vai agir nesse final de protesto, e se não haverá aqueles manifestantes infiltrados quebrando as coisas também", disse o professor de Matemática Cláudio Cerqueira, de 43 anos, que foi com a namorada no protesto.