Valquiria Lopes/Estado de Minas
postado em 06/09/2016 07:20
Depois de colher o depoimento duas vezes do homem apontado como principal suspeito de matar três mineiras em Portugal, no início do ano, a Polícia Federal de Minas Gerais cumpriu ontem mandado de prisão contra Dinai Alves Gomes, 34 anos. Investigado desde fevereiro, quando as jovens desaparecem no país europeu, ele foi detido enquanto trabalhava em uma obra da construção civil, na capital. O homem, natural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, também morava em Portugal na época do sumiço das brasileiras, mas voltou para o Brasil dias depois de a polícia portuguesa ser comunicada dos desaparecimentos. Monitorado desde então pela Polícia Federal, ele ficou em Belo Horizonte, de onde saiu poucas vezes, segundo a própria PF.
Ontem, durante a prisão, Dinai não ofereceu resistência. Ele seria ouvido pelo delegado responsável pelo caso, Roberto Câmara. A prisão foi necessária, segundo o policial, para facilitar o trabalho de investigação, diante da maior peça-chave do caso: em 26 de agosto, a Polícia Judiciária Portuguesa localizou os corpos de Michele Santana Ferreira, Lidiana Neves Santana e Thayane Milla Mendes Dias no local de trabalho do suspeito, em Portugal.
Câmara diz que, antes da localização dos corpos, não tinha elementos para pedir a prisão do suspeito. ;Agora, foi necessária;, disse. A PF considera que o desaparecimento das três mineiras ocorreu em maio, mas as famílias afirmam que ficaram sem notícias em 2 de fevereiro, quatro dias depois de Thayane ter chegado a Portugal.
[SAIBAMAIS]Na ação de ontem, além do mandado de prisão temporária, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na residência do preso e um mandado de condução coercitiva, todos expedidos pela Justiça Federal de Belo Horizonte. Se confirmada a autoria do triplo homicídio qualificado e da ocultação de cadáver, ele poderá ser condenado a até 99 anos de prisão. De acordo com o delegado Câmara, a prisão tem prazo inicial de 30 dias, podendo ser prorrogada.
A notícia da prisão repercutiu entre familiares de Thayane, que tinha 21 anos e nasceu em Ataléia (Vale do Mucuri), de Michele, 28, e de Lidiane, 6, irmãs e naturais de Campanário. ;Pelo menos, temos o sentimento de que a Justiça começa a ser feita. Ele era o maior suspeito e estava aí, solto, vivendo tranquilamente em BH, como se nada tivesse acontecido;, queixou-se o pai de Thayane, o caminhoneiro Galvany Palmela Galvão, 52. Na semana passada, ele veio a BH para trazer informações que pudessem contribuir para a identificação dos corpos.
;Nós só queremos que ele diga por que fez isso. A polícia está fazendo autópsia dos corpos e vai apontar o que pode ter acontecido, mas só vamos saber quando ele abrir a boca. Precisamos saber porque tirou a vida das três;, disse Vinícius Santana Ferreira, irmão de Michele e Lidiane. A mãe das duas, a auxiliar de serviços gerais Solange Santana Leite, 50, pediu Justiça. ;A verdade, para mim é que tanto faz (a prisão), porque, na realidade, as meninas eu não vou ter de volta. Eu não sinto nada por este rapaz, nem ódio e nem pena. A única coisa que faço é pedir a Deus a Justiça;, disse.
Gravidez
Para os familiares das jovens, a gravidez de Michele, que esperava um filho de Dinai, pode ter levado o homem a cometer os crimes. Dinai, que é casado, mantinha um relacionamento extraconjungal com Michele. O Itamaraty informou no fim de agosto que o governo brasileiro não tem como arcar com o traslado dos corpos das jovens, podendo apenas ajudar a agilizar trâmites burocráticos. Ontem, afirmou que somente a família pode dar informações sobre a transferência dos corpos.