postado em 06/10/2016 06:46
Ao longo das próximas 24 horas, você vai acordar, trabalhar exaustivamente, ter um pouco de lazer e dormir. Nesse mesmo intervalo, 156 brasileiras vão descobrir que têm câncer de mama. Esse tipo de tumor é o que mais afeta as mulheres ; cerca de 22% dos novos tumores a cada ano são desse tipo, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para chamar a atenção ao diagnóstico precoce, a campanha Outubro Rosa, criada em 1990 nos Estados Unidos e agora popular no mundo todo, tenta conscientizar a população ao longo do mês.
Promovida no Brasil pelo Inca, a campanha deste ano tem o mote ;Vamos falar sobre isso?;, com o objetivo de levantar discussões e fortalecer o diagnóstico. O rastreamento precoce, aliás, é essencial para reduzir a mortalidade. No entanto, os exames nem sempre estão ao alcance da população ; no Brasil, o SUS só os recomenda para mulheres acima de 50 anos.
A decisão leva em conta a prevalência da doença, o que costuma acontecer a partir da quinta década de vida. Contudo, um levantamento do Camargo Cancer Center com 4.527 pacientes, feito entre 2000 e 2010, mostrou que quatro em cada 10 mulheres com câncer de mama diagnosticado na instituição tinham menos de 50 anos e não descobririam o tumor se tivessem seguido a orientação do ministério. A Sociedade Brasileira de Mastologia, aliás, recomenda o exame a partir dos 40 anos.
[SAIBAMAIS];A gente vê o paciente perdido no sistema;, diz Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, ONG que nasceu em 2009 para fornecer informações e apoio a pacientes com câncer. Ela explica que a maioria das pessoas não costuma conhecer direitos essenciais ; como a garantia ao tratamento em no máximo 60 dias após o diagnóstico.
A desinformação e o baixo acesso a tecnologias são as principais causas de mortalidade. Só no Brasil, quase 14,5 mil pessoas morreram por câncer de mama em 2013, conforme o Inca. O índice estabilizou ou está diminuindo no Sul e Sudeste, mas segue aumentando em outras regiões, sobretudo no interior, diz Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Albert Einstein. ;Não é só curar, mas também cuidar do paciente e tratar a doença;, defende
A prevenção é comum a outros tipos de câncer: evitar obesidade, álcool e tabagismo, praticar atividade física e ter alimentação saudável. Mais especificamente, é recomendado amamentar e evitar a reposição hormonal após a menopausa. No caso do câncer de mama, tais cuidados são essenciais porque, ao contrário do que muita gente pensa, o fator genético não é fundamental para o aparecimento da doença. ;Na imensa maioria dos casos, o câncer aparece porque houve uma mutação na célula, e não porque a pessoa tem uma predisposição a um gene anômalo;, diz Kaliks.
Câncer metastático
O câncer de mama pode ser classificado em três fases: precoce, quando é apenas restrito à mama; localmente avançado, quando atinge mama e axila; ou metastático (avançado), quando se espalha para outras partes no corpo. Cerca de 30% das mulheres desenvolvem esse nível mais grave, mesmo que a doença seja diagnosticada cedo, segundo um estudo publicado no periódico The Oncologist. É um recorte considerável.
A campanha Cada Minuto Conta, promovida pela Pfizer em parceria com a União Latino-Americana Contra o Câncer da Mulher, é uma das mobilizações que vai ocorrer neste mês em São Paulo capital. Uma das ações vai acontecer nas estações de metrô. Transeuntes serão questionados sobre os conhecimentos sobre mitos e verdades acerca do assunto. Apesar de a palavra ;metástase; muitas vezes estar associada à morte, a relação não necessariamente é esta.
Aliás, a ciência avançou bastante e desenvolveu medicamentos que conseguem atuar diretamente nas células cancerígenas e oferecer uma maior expectativa de vida às pacientes. É o caso da aposentada Elfriede Galera, de 65 anos, moradora de São Paulo. Em 2010, ela foi diagnosticada com câncer de mama metastático nos ossos e pulmão, cerca de dois anos após ter ido ao posto de saúde reclamar de assimetria na mama. ;Na época, ouvi do médico que meu problema era ter uma pia cheia de louça para lavar;, conta, ao descrever a falta de preparo do profissional ao lidar com o assunto.
Após realizar quimioterapias e uma mastectomia na mama esquerda em 2012, ela convive com a doença em nível avançado. A aposentada reforça que não tem nenhum empecilho e desempenha normalmente suas atividades. Hoje, ela atua como ;embaixadora; do Instituto Oncoguia para divulgar que pacientes com câncer metástatico podem, sim, ter uma vida normal.
O marido é peça-chave na história: os dois construíram um veleiro, fizeram vaquinha virtual para arrecadar fundos e criaram a página Veleiro Augenblick, para documentar o processo que a ajuda a ter forças. ;Ter um objetivo faz muito bem;, diz. Apesar de Elfriede ser bastante franca e direta, o assunto é espinhoso e nem todo mundo gosta de abordá-lo. ;Sinto mais facilidade de falar sobre isso com criança do que com adulto;, relata.
14,5 mil
Número de mulheres vítimas de câncer de mama no Brasil em 2013