Brasil

Estoques elevados facilitam negociação de prazo e preço

Momento é positivo para barganhar bons descontos e aproveitar promoções; muitos empresários, de diversos segmentos, estão preferindo reduzir preços a amargar com os altos estoques

Marlla Sabino - Especial para o Correio
postado em 30/10/2016 08:00

Os efeitos da crise econômica atingem todos os brasileiros. Apesar de não ser uma situação simples de se resolver, não dá para cruzar os braços e ver o trem passar. É possível conseguir vantagens em alguns setores e investimentos. O momento é positivo para barganhar bons descontos e aproveitar promoções. Muitos empresários, de diversos segmentos, estão preferindo reduzir preços a amargar com os altos estoques.

O consultor financeiro Paulo Vieira considera um bom momento para se investir em empregabilidade. Como o desemprego afeta muitos brasileiros, o tempo livre pode ser usado para capacitação profissional. ;Invista na galinha de ovos de ouro. Se foi demitido, pode ser uma boa maneira de aumentar as chances de voltar para o mercado. Se não, pode ser a chance de mergulhar em uma área que identifique como promissora;, sugere.

Pode ser a hora também de comprar alguns produtos, já que, apesar de os indicadores de confiança terem melhorado, não se reverteram em vendas e os estoques estão altos em muitos setores. Sem o giro de mercadorias, os varejistas apostam na redução de preços, na queda de juros ou facilitação do crédito para conquistar os clientes e evitar prejuízos.

A assessora econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Juliana Serapio alerta, no entanto, que é preciso analisar a real necessidade da despesa e do bem, antes de qualquer compra. ;Por meio do uso de portais de pesquisa de preços na internet, o consumidor pode fazer comparações e aproveitar ofertas;, aconselha.

Para Vieira, mais importante do que encontrar bons preços é levar para casa apenas o imprescindível. É preciso se questionar se realmente precisa de tal item ou serviço e se assegurar de que não existe alguma outra opção mais barata que proporcione o mesmo efeito. ;A desculpa de quem está endividado é aproveitar a promoção, mas, às vezes, é só uma necessidade emocional. Se de fato precisar, procure a opção mais barata disponível no mercado;, ressalta.

Ciente do perigo do endividamento, a auxiliar administrativa Amanda Sousa, 27 anos, ficou um mês sem celular. O aparelho antigo foi roubado e ela não tinha condições de pagar o valor cobrado por um novo. ;A perda dificultou a minha vida profissional, pois eu atendia a maioria das demandas do escritório por meio de aplicativos;, explica. Mesmo assim, ela esperou o salário seguinte e separou mais da metade para comprar à vista o novo aparelho. Com o
dinheiro em mãos, Amanda conseguiu negociar um bom desconto. ;Não adiantaria usar o cartão de crédito e comprar o celular de imediato, preferi ficar sem comunicação por um tempo e não ter dívidas posteriores;, acredita.

Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana, o momento é positivo para compra, pois os lojistas estão mais flexíveis para atender às solicitações dos clientes, devido à queda nas vendas. ;Se o consumidor souber negociar e mostrar interesse na compra, pode ter vantagem. Ambos saem ganhando. Quem vende deixa de estocar e a pessoa compra por um preço melhor;, diz.

Quando estava trabalhando como atendente, Goreth Leal, 24, dividia com o marido as contas da casa. Só de aluguel, o desembolso mensal é de R$ 600, o equivalente à metade da renda do casal. Com o desligamento dela do emprego, a situação se complicou. Para piorar, foram avisados pelo proprietário do imóvel onde moram que o valor seria reajustado em R$ 100. ;Mesmo quando eu trabalhava, o dinheiro não dava para pagar todos os nossos gastos;, explica Goreth.

Sem condições de pagar o reajuste pedido, Goreth decidiu conversar com o proprietário e negociar. Depois de uma longa conversa, conseguiu que ele desistisse do aumento. ;Como moramos aqui há dois anos, ele confia na gente por sempre pagar na data certinha, manteve o preço antigo;, afirma.

O presidente do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi- DF), Carlos Hiram Bentes, explica que os preços de aluguéis continuam perdendo valor e que a palavra de ordem é negociar. ;Os proprietários estão mais sensíveis a entender a situação do inquilino. Muitas vezes acabam percebendo que há opções de imóveis semelhantes e acabam adiando o reajuste no valor para não ficar com imóvel vazio;, argumenta.

Além da situação favorável para as pessoas negociarem o preço do aluguel, o momento é bom para comprar imóveis. A grande quantidade à venda facilita que o consumidor barganhe o preço ou aproveite feirões e liquidações. ;O momento é agora, pois há mais oferta do que demanda, e é possível aproveitar o estoque de imóveis novos;, acrescenta. Caso precise de financiamento, Bentes recomenda pesquisar opções de crédito também em bancos privados.

O técnico de radiografia Márcio Gomes, 27, aproveitou a queda nos preços dos imóveis para finalmente realizar o sonho de comprar a casa própria. No ano passado, ele procurou imóveis, mas os valores de entrada cobrados pela imobiliária
eram inacessíveis. ;Eu tinha acabado de completar três meses de carteira assinada, isso também dificultou a aquisição naquele momento;, ressalta o técnico.

Sem condições de pagar o que estava sendo cobrado, Gomes decidiu adiar o sonho e juntar dinheiro. Poupou por quase um ano, sem nunca deixar de pesquisar. Quando as vendas caíram e o estoque de imóveis ficou alto, conseguiu comprar a casa onde mora há quase dois meses. ;Tinha o dinheiro da entrada e consegui comprar em um lugar acessível, por um preço menor do que estava sendo cobrado antes;, comemora.

Adalberto Júnior, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), ressalta que, nos últimos anos, os lançamentos de novos imóveis caíram. Quando os estoques baixarem, os preços podem voltar a subir. ;É uma grande oportunidade, existe uma possibilidade grande de o cliente se dar bem e conseguir negociar um
preço mais favorável;, afirma.

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