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Funcionário da Santa Casa é ferido por integrante de movimento por moradia

A agressão ocorreu por volta das 7 horas, horário de entrada de Andrade. Ele afirma que, ao chegar para trabalhar, aproximou-se do edifício com outros funcionários para tentar negociar a saída do Movimento

postado em 04/11/2016 18:39

Um funcionário da Santa Casa de Misericórdia fraturou o maxilar na manhã desta sexta-feira (4/11) e será submetido a cirurgia após ser agredido com uma pedra jogada por membros do Movimento de Moradia e Inclusão Social (MMIS), grupo que invadiu um prédio da instituição. Reinaldo dos Santos Andrade, de 46 anos, é supervisor de serviços terceirizados e trabalha há 19 anos na Santa Casa. Ele será internado na próxima segunda-feira (7/11) para uma cirurgia de reconstrução facial. Um boletim de ocorrência por lesão corporal foi registrado e o Movimento admitiu a agressão.

O sobrado de dois andares está localizado na Rua Jaguaribe, 92, na Consolação, região central da capital. O local serve de estoque das doações de voluntários da entidade. A instituição diz que a entrada do grupo ocorreu à meia-noite desta sexta, quando o alarme de segurança soou. Segundo uma representante do MMIS, porém, as primeiras pessoas já estavam no local desde a madrugada do dia 29 de outubro. Adila Patrícia de Oliveira Dahora, de 22 anos, balconista desempregada, diz que a presença do grupo só teria chamado a atenção nesta sexta, pois outros participantes chegaram com sofá, fogão e geladeira.


A agressão ocorreu por volta das 7 horas, horário de entrada de Andrade. Ele afirma que, ao chegar para trabalhar, aproximou-se do edifício com outros funcionários para tentar negociar a saída do Movimento. Mas os integrantes teriam reagido primeiro acionando um extintor de incêndio. Em seguida, teriam arremessado pedaços de pau e pedras.

"Estava todo mundo desarmado. Até porque aqui ninguém trabalha armado. Mas o que eles tinham, eles jogaram. Essas não são pessoas de bem. São criminosos", diz Andrade, que nega ter revidado. O funcionário conta que telefonava para a polícia quando uma pedra foi arremessada da sacada do primeiro andar. Ele teve três fraturas no rosto entre o maxilar e o osso zigomático direitos.

Adila, representante do MMIS, conta outra versão. Ela confirma que uma mulher, membro do grupo, jogou a pedra no funcionário, mas alega legítima defesa. De acordo com ela, o grupo dormia quando funcionários da Santa Casa tentaram entrar no edifício.

"Sim, (agredimos). Eles forçaram a porta, estavam chutando, tentando quebrar. Disseram que iam entrar de qualquer jeito. Foi quando um segurança puxou o braço dela para fora. Prensou a mão no vidro. Ela pegou uma pedra e tacou na cabeça dele. Foi um ato sem pensar. (Ela) errou da mesma forma que ele errou. Era ele ou ela", explica. Conforme Adila, a pedra teria sido jogada do térreo, e não da sacada.

Segundo ela, o grupo existe há um mês e este foi o primeiro imóvel invadido pelos membros. Há 27 pessoas no local, entre elas seis crianças, um bebê de sete meses e duas idosas. Adila afirma que o Movimento não pretende entrar em outros prédios da Santa Casa. "Queremos um cantinho, nem que seja por uns meses. Vimos que esse prédio estava abandonado e entramos. Na semana que vem, vamos cadastrar os moradores em programas de habitação", afirma.

O prédio é um dos 20 que a Santa Casa possui no entorno do hospital. Nenhum dos anexos possui segurança física, somente sistema de alarme. O membro da mesa administrativa e mordomo dos hospitais, Paulo Mota, diz que os prédios anexos à Santa Casa nunca foram invadidos e que "não justifica ter homens de segurança" nos locais. Os edifícios também nunca tiveram seguranças. Nos edifícios, funcionam os setores de Recursos Humanos, além de escolas de Enfermagem e Medicina.

Com dívida de R$ 800 milhões, a entidade passa por dificuldades financeiras e esse é um dos motivos alegados pela mesa administrativa para não ter um posto de segurança dos imóveis anexos. Agora, a preocupação da direção do hospital é com a invasão dos outros edifícios do entorno.

"Este não é um movimento de ocupação de prédios. São criminosos covardes que agrediram um funcionário que cumpria a sua obrigação. Vamos fazer reuniões com a Polícia Militar para pedir o reforço de prédios do entorno", diz ele.

De acordo com Mota, o hospital faz segurança patrimonial e, por isso, os agentes não andam armados e sequer estão preparados para resolver esse tipo de evento. O departamento jurídico vai entrar com uma liminar para pedir a reintegração de posse ainda nesta sexta.

De madrugada, um boletim de ocorrência de esbulho possessório foi registrado no 77; Distrito Policial (Santa Cecília). Após a agressão ao funcionário, um segundo boletim de ocorrência foi registrado no mesmo DP, por lesão corporal.

A Polícia Civil requisitou um exame no Instituto Médico Legal (IML), que deve ser feito por Andrade ainda nesta sexta. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi procurada, mas até as 17h30 ainda não havia se manifestado.

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