postado em 12/11/2016 09:42
O investigador da Polícia Civil José Camilo Leonel foi condenado anteontem pela Justiça de São Paulo a 11 anos, 9 meses e 10 dias de prisão por agredir o comerciante iraniano Navid Rasolifard Saysan em uma loja de tapetes da capital, em janeiro. Para a estudante Iolanda Delce dos Santos, que também estava envolvida na ocorrência, a Justiça determinou pena de 6 anos e 6 meses de prisão. Ainda cabe recurso.Segundo a decisão da juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4.; Vara Criminal de São Paulo, o policial terá de pagar multa de R$ 20 mil por abuso de autoridade e perderá a aposentadoria e o cargo público. Para a magistrada, os acusados não terão direito a benefício e deverão cumprir o início da pena em regime fechado.
Maria Priscilla disse que Leonel demonstrou "claro desrespeito à vida alheia, abusando de sua função pública, utilizando armas, distintivo, viatura da Polícia Civil do Estado de São Paulo, bem como apoio de uma série de policiais civis em sua conduta, praticada com violência contra um comerciante, em área nobre e monitorada da cidade, com a certeza total da impunidade de seus atos".
O crime aconteceu na loja Trabiz Tapetes, nos Jardins, na zona sul, no dia 21 de janeiro. Após comprar um tapete persa no valor de R$ 5 mil e se arrepender, Iolanda foi à loja para devolver o produto. Saysan afirmou que não poderia desfazer o negócio, mas ofereceu um vale-compras, que não foi aceito pela estudante.
Ela acionou o policial, que entrou no estabelecimento e deu início às agressões. O comerciante levou socos, chutes, e o policial apontou uma arma para sua cabeça. A ação foi filmada por funcionários, que foram intimidados.
Leonel levou o comerciante à força para fora da loja e acionou o Grupo de Operações Especiais (GOE), grupo de elite da Polícia Civil, que logo chegou para dar apoio ao investigador. O comerciante foi algemado e novamente hostilizado por Leonel, que tomou o fuzil de um colega do GOE e mostrou para a vítima.
Antes de registrar o caso na Corregedoria, o investigador foi até a Delegacia de Crimes Contra o Consumidor, que não registrou o caso. Na Corregedoria, o delegado Filipe Martins da Silva, a pedido de Leonel, registrou o caso como desobediência e recusa de dados sobre a própria identidade.
O investigador disse que passava pelo local e atendeu ao "apelo" de Iolanda. Alegou também que foi obrigado a usar força física, porque o comerciante se recusou a acompanhá-lo até a delegacia e não quis mostrar o documento de identidade.
O delegado ouviu as declarações do comerciante, dos funcionários e de clientes da loja que relataram as agressões, mas não tomou nenhuma providência contra Leonel. Ainda escreveu no boletim de ocorrência que é imperioso consignar que Saysan não apresentava hematomas decorrentes da alegada "agressão".
Investigação
O Estado entrou em contato com os advogados de Leonel e Iolanda, mas dois dos três defensores dos acusados não se posicionaram sobre o caso. Eles indicaram um terceiro advogado para falar, que não foi encontrado.
Na época do crime, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Corregedoria da Polícia Civil apuraria a conduta do investigador e também se eventuais crimes contra o consumidor foram praticados pelo comerciante. Mas, depois que as imagens do espancamento foram divulgadas, a pasta afirmou que investigaria o policial pelas agressões, por abuso de autoridade e uso da viatura durante as férias.
Procurada ontem, a SSP se limitou a afirmar que o processo administrativo disciplinar conduzido pela Corregedoria da Polícia Civil "encontra-se em fase final de instrução".
Por Agência Estado