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Da série D à final continental, Chapecoense escrevia roteiro de filme

Há sete anos, quase falida, a equipe de Santa Catarina disputava a série D do Campeonato Brasileiro. Nesta quarta-feira (30), com um orçamento 10 vezes menor do que o do Flamengo, um desempenho surpreendente na Série A, disputaria a sua primeira final de um torneio internacional

Renato Alves
postado em 29/11/2016 10:02
Em uma campanha histórica, A Chapecoense superou times tradicionais do continente, como Júnior Barranquila (Colômbia), Independiente (Argentina) e San Lorenzo (Argentina) Não fosse o desfecho trágico da manhã desta terça-feira (29), com a queda do avião que levava a sua delegação, a história da Chapecoense renderia um roteiro típico dos filmes norte-americanos sobre superação no esporte. Há sete anos, quase falida, a equipe de Santa Catarina disputava a série D do Campeonato Brasileiro. Nesta quarta-feira (30), com um desempenho surpreendente na Série A, disputaria a sua primeira final de um torneio internacional, a Copa Sul-Americana.

Em uma campanha histórica, A Chapecoense superou times tradicionais do continente, como Júnior Barranquila (Colômbia), Independiente (Argentina) e San Lorenzo (Argentina). A Chape, como é chamada por seus torcedores, enfrentaria o Atlético Nacional (Colômbia), campeão da Libertadores de 2016. A primeira partida seria nesta quarta-feira, em Medelín, a segunda, daqui a uma semana, em Curitiba (PR).

A Associação Chapecoense de futebol surgiu em 1973, da junção de dois antigos clubes de Chapecó, o Atlético Chapecó e o Independente. O objetivo era criar uma expressividade do futebol regional em Santa Catarina, pois este era praticamente inexistente. Chapecó fica no oeste de Santa Catarina, e tem pouco mais de 200 mil habitantes. É apenas a quinta maior população do estado.

Demorou sete anos para a Chape conquistar o seu primeiro título. Em 1977, o alviverde bateu o Avaí na final do catarinense e levou a taça pra casa. O bicampeonato, no entanto, só viria em 1996, após uma grande polêmica. Na noite anterior à final, alguns torcedores da Chape soltaram fogos em frente ao hotel em que o Joinville, adversário da Chape, estava hospedado. O presidente do Joinville decidiu não ir a campo, e o árbitro declarou a Chape campeã por W.O. O Joinville recorreu e conseguiu realizar outro jogo, em 18 de dezembro (inicialmente, aconteceria em 13 de julho). Mesmo assim, a Chape levou o confronto para a prorrogação e garantiu o seu segundo título na história.

Segundona catarinense

Após essa conquista, a Chape entrou em declínio. O pior momento foi em 2001, quando a equipe ficou em último lugar no catarinense e teve de disputar a divisão de acesso no ano seguinte para retornar à elite regional. Em 2003, para se livrar de sérias dívidas, a Chape mudou o nome para Associação Chapecoense Kindermann/mastervet, mudando sua personalidade jurídica e se aproveitando de uma brecha na legislação brasileira.

Mas a maior mudança ocorreu em 2005, quando um grupo de empresários de Chapecó assumiu a direção do clube. O primeiro resultado veio em 2007, com a conquista do tricampeonato estadual e a consequente classificação para a Copa do Brasil de 2008, em que foi eliminada na segunda fase. Já em 2009, mesmo desacreditado, o alviverde conquistou o vice-campeonato estadual e disputou a Série D do Campeonato Brasileiro, onde conseguiu o acesso para a Série C de 2010.

Entre 2010 e 2012, a Chape continuou disputando a Série C. No último ano, conseguiu o acesso para a Série B de 2013. A conquista do acesso para a segunda divisão foi um feito histórico para o time catarinense. Mais histórico ainda foi o surpreendente acesso para a Série A de 2014.

Desde então, foram três anos seguidos disputando a melhor divisão do país e fazendo boas campanhas, com grandes vitórias sobre os maiores times do Brasil. Em 2014, primeiro ano da Chapecoense na Série A, o time goleou o Internacional por 5 x 0. Em 2015, foi a vez do Palmeiras levar cinco gols do Índio Condá, como também é conhecida a equipe, que manda os seus jogos na Arena Condá.

Fama internacional

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Mas 2015 foi marcante para a Chapecoense por outro motivo. Foi o ano em que o time fez a sua primeira partida internacional, contra o Libertad do Paraguai, válido pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. O alviverde se impôs e garantiu a classificação. Nas quartas de final, o baque: enfrentariam o todo poderoso River Plate da Argentina.

No jogo de ida, no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, o time argentino ganhou por 3 x 1. Porém, o placar deixou o jogo de volta na Arena Condá mais emocionante. A Chapecoense se impôs e caiu de pés vencendo o confronto por 2 X 1, com direito a bola na trave no fim da partida.

Porém, mais emoções estavam reservadas aos torcedores e jogadores da Chape para 2016. Neste ano, o time conquistou o tetracampeonato estadual e manteve a boa campanha no Brasileirão, considerando a sua renda e gastos em comparação com os outros clubes - um orçamento 10 vezes menor do que o do Flamengo, por exemplo. A maior surpresa foi, novamente, na Copa Sul-Americana.

O dia 23 de novembro de 2016 será sempre lembrado como o da maior façanha da Chapecoense. O o dia em que o alviverde catarinense conseguiu a classificação para a final da Copa Sul-Americana, ao eliminar o Sana Lorenzo, o time do Papa Francisco.

Ascensão meteórica

2009 - Série D do Campeonato Brasileiro
2012 - Série C do Campeonato Brasileiro
2013 - Série B do Campeonato Brasileiro
2014 - Série A do Campeonato Brasileiro
2016 - Final da Sul-americana

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