Breno Fortes, Marcos Paulo Lima
postado em 30/11/2016 09:35
Chapecó (SC) ; No cruzamento da rua Quintino Bocaiúva com a Getúlio Vargas, um jovem de calça preta, camiseta branca, boné, tatuado e fone de ouvido nas mãos trava antes de atravessar a pista. Inerte, leva as mãos ao rosto várias vezes. Chora. Limpa os olhos marejados. Mas as lágrimas escorrem ao olhar a imagem de um dos seus ídolos, Danilo, em um banner gigante no balão (ou rotatória, como dizem os chapecoenses) da Pittol.
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;Eu sou da base da Chapecoense. Estou saindo de casa para trabalhar e me dei de cara com a foto do Danilo. Eu não consigo andar, sair do lugar. É muito cruel, muito cruel;, apresenta-se Deysial Santos Matos, 22 anos, a caminho da padaria em que trabalha das 10h às 18h. ;Sou auxiliar de padeiro. Trabalho durante o dia e treino durante a noite. Estou lutando ainda para ver se alguém me chama para jogar no time profissional;, conta.
Maranhense de Rosário, Deysial mudou-se para Chapecó com dois sonhos. ;Arrumar emprego, que é muito difícil na minha cidade, e tentar ser jogador de futebol. Quando cheguei aqui, consegui emprego em um mercadinho da cidade. Agora, estou na padaria. Amanhã, quero ser o sucessor do Bruno Rangel. Sou centroavante, como ele. Nós, da base, somos o futuro;, diz.
Emocionado, Deysial tinha pouco tempo para caminhar até o emprego e bater o ponto. Ele assume do que mais vai sentir falta. ;Os jogadores do profissional iam muito lá na padaria em que eu trabalho fazer compras. Vai ser difícil entender a ausência deles a partir de agora".
"Era muito comum ele comprarem pão, leite, bater um papo comigo sobre futebol e falarem que queriam me ver treinando mais tarde. Agora, tudo isso acabou", lamenta.
[SAIBAMAIS]O discurso de Deysial é o mesmo de todos os moradores de Chapecó. ;Eles eram muito próximos de nós. Era comum encontrá-los em qualquer lugar da cidade. Quando acordei com a minha tia avisando que o avião da Chapecoense havia caído, eu nem consegui ver nada. Até tento ver o noticiário, mas é por pouco tempo. Eu prefiro trabalhar a ficar em casa assistindo;.
Quanto ao futuro, Deysial projeta. ;Meu sonho, agora, é representar a torcida. Não penso muito no dinheiro, não. Ganhar bem é para poucos jogadores. Eu só quero ser um ídolo capaz de comover as crianças de Chapecó, como eu vi lá na Arena Condá. Isso não tem preço.