Brasil

Emoção toma conta de Arena Condá em velório da Chapecoense

Com capas e guarda-chuvas para se protegerem do dilúvio, os torcedores pouco tinham força para entoar os gritos de guerra

Marcos Paulo Lima - Enviado especial
postado em 03/12/2016 11:41

Com capas e guarda-chuvas para se protegerem do dilúvio, os torcedores pouco tinham força para entoar os gritos de guerra

Chapecó (SC) - Choveu duas vezes nesta semana na cidade do oeste catarinense. Uma na última terça-feira, na madrugada do acidente com o avião da Chapecoense. A outra, no sábado mais triste da história do município de 210 mil habitantes. A água vinda do céu se misturava às lágrimas dos torcedores nas arquibancadas da Arena Condá. Foi assim quando eles viram pelo telão do estádio a aterrissagem por volta de 9h30 das duas areronaves Hércules, da Força Aérea Brasileira (FAB), com os 50 caixões vindos de Medellín, o local da maior tragédia do jovem clube de futebol de 43 anos.

Com capas e guarda-chuvas para se protegerem do dilúvio, os torcedores pouco tinham força para entoar os gritos de guerra. Anestesiados, ficaram de costas para o gramado. Olhos fixos no telão. Aplausos a cada saída das urnas de dentro do avião. Por incrível que pareça, nenhum foi mais alto do que o outro. Quando o último caixão passou, sim, todos os jogadores, dirigentes, comissão técnica e demais funcionários vítimas do acidente foram ovacionados.

Quando os caixões entraram nas carretas para o cortejo, mais emoção. Gritos de "olê, olê, olê, olê, chape, chape". Os brados abafaram por alguns instantes o som da música fúnebre tocada no sistema de som da Arena Condá. Apesar da chuva, ninguém arredava os pés do estádio. Para tentar amenizar a dor, a mascotinha trajada de Índio Condá passou pelo gramado. Fez graça em frente à trave em que o goleiro Danilo fazia seus milagres. Arrancou sorrisos discretos, cânticos "de estou sempre contigo, não importa onde estejam, sempre estarei contigo", uma paródia da música da banda dos Mamonas Assassinas. Mas o silêncio voltou.

Com capas e guarda-chuvas para se protegerem do dilúvio, os torcedores pouco tinham força para entoar os gritos de guerra

Olhos direcionados para o cortejo. Ansiedade para o momento mais duro. À entrada dos caixotes com os heróis que levaram o clube da Série D à final da Copa Sul-Americana no gramado em que eram idolatrados. A longa espera estava chegando ao fim, reforçada por torcidas organizadas de várias partes do Brasil e da América, como Cruzeiro, Bahia, Juventude, Independiente, Paysandu, Vitória, Inter, São Paulo, Atletico-MG, Coritiba e Atletico-PR.

Pouco a pouco, os familiares das vítimas retornaram ao estádio. Foram sendo acomodadas perto do local reservado aos caixões. Dona Ilaídes Padilha foi quem mais ouviu o nome do filho gritado: "Danilo, Danilo". O goleiro chegou a deixar o local do acidente com vida, foi resgatado pelos colombianos, mas não resistiu.

Com capas e guarda-chuvas para se protegerem do dilúvio, os torcedores pouco tinham força para entoar os gritos de guerra

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