postado em 05/12/2016 07:06
Já vestida com camiseta branca, calça caqui, chinelo de dedos e as mãos para trás, Elize Matsunaga ouviu a sentença dada pelo juiz Adilson Paukoski, às 2h07 desta segunda-feira (5/12). , a bacharel em direito foi condenada a 19 anos, 11 meses e 1 dia de prisão em regime fechado, pela morte do marido, Marcos Kitano Matsunaga, diretor da Yoki alimentos, em 19 de maio de 2012.
O julgamento, iniciado na segunda-feira (28/11), ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista. Foi um dos mais longos da Justiça de São Paulo. O júri foi formado por quatro mulheres e três homens. Eles ficaram reunidos por mais de 2h30 para definir o julgamento.
Elize recebeu pena de 18 anos e 9 meses por homicídio sem chances de defesa da vítima, e mais 1 ano, dois meses e 1 dia por destruição e ocultação de cadáver. Os jurados não consideraram as qualificadoras "motivo torpe" (por vingança e dinheiro) e "meio cruel" (que a vítima ainda estaria viva quando foi esquartejada), pedidas pela promotoria. Elize já cumpriu 4 anos e meio de prisão antes do julgamento.
A defesa deve recorrer da sentença. O requerimento para tal ação já foi assinado pela ré confessa. A promotoria afirmou que não deve recorrer. Elize deve voltar ainda hoje para o presídio de Tremembé, no Vale do Paraíba, onde está presa desde 4 de junho de 2012.
O julgamento
Durante o julgamento, a ré confessa foi interrogada sobre sua versão do assassinato. Elize manteve a voz firme ao falar sobre o disparo que atingiu o lado esquerdo do crânio de Marcos e o esquartejamento, realizado com uma faca de carne no quarto de hóspedes do apartamento. "A única forma que eu encontrei foi cortá-lo, infelizmente", afirmou. No momento do crime, só o casal e a filha estavam em casa, segundo a ré.
[SAIBAMAIS]Ela chorou ao falar do passado como garota de programa, da filha e dos xingamentos do marido. A defesa tentou mostrar que o crime havia sido passional e aconteceu em um momento de forte emoção. Segundo Elize, os dois se conheceram por meio de um site de acompanhantes no fim de 2004. Marcos pagava para sair com ela de duas as três vezes por semana. "Ele era muito gentil, um cavalheiro. Com o tempo, nós começamos a conversar e descobrimos afinidades. Não era o homem que conviveu comigo nos últimos seis meses antes dos fatos", declarou a ré.
Ao responder ao juiz Paukoski, Elize diz que chegou a procurar advogados para se divorciar de Marcos, mas nunca deu início ao processo. Uma das vezes, conta, foi quando descobriu uma traição do marido com uma funcionária da Yoki, em 2010. Na mesma época, descobriu que estava grávida de Helena, hoje com cinco anos. "Eu queria que minha filha tivesse uma história diferente da minha", contou.
O crime
Elize havia retornado de uma viagem de três dias a uma cidade do interior do Paraná, onde nasceu - junto com a filha e a babá. Um detetive, contratado por ela, filmou uma traição de Marcos no primeiro dia da viagem. Marcos foi buscá-las no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Todos foram ao apartamento. Após a saída da babá, o casal pediu uma pizza que o empresário foi buscar na portaria, conforme imagens de câmeras no elevador mostraram à época.
O casal chegou a sentar à mesa, mas iniciaram uma discussão. Marcos teria dito que ia para a casa do pai. Elize desconfiava que ele voltaria a se encontrar com a amante. "Contei que tinha contratado um detetive e sabia de tudo". De acordo com o relato da bacharel em Direito, o empresário esbravejou: "Como você tem coragem de fazer isso com o meu dinheiro?", teria dito. "Ele me chamou de vaca, vagabunda e deu um tapa no rosto", afirmou Elize.
Na versão da ré, não houve emboscada. Ela contou que, após levar um tapa de Marcos, foi para a sala de estar, apanhar a pistola .380, que havia ganhado dele de presente. Marcos teria ido atrás dela. "Ele ficou surpreso e começou a rir", contou. "Falou que eu era uma puta, falou para eu ir embora com a minha família e deixar a filha dele lá", afirmou.
Praticante de tiro, Elize disparou a arma e acertou o marido na cabeça. "Eu queria que ele calasse. Queria que tudo aquilo acabasse", disse. Desesperada, conforme Elize mesma relatou, chegou a pegar o telefone para ligar para a polícia, mas desistiu. Contou que arrastou o corpo da vítima pelos braços, por cerca de 15 metros, até o quarto de hóspedes. Depois limpou o rastro de sangue com um pano e produto de limpeza. O esquartejamento só começou no dia seguinte, entre 5h30 e 6h, após a chegada da babá. "Queria esconder ele", justificou. Ela relata que começou pelos joelhos, porque sabia que "só tinha articulação". Depois os braços, o tronco e, por fim, a cabeça. Pôs as partes em sacos de lixo e os sacos em três malas.
Entenda
Elize e Marcos Matsunaga se conheceram por meio de um site de anúncios de prostitutas de luxo, quando ele ainda era casado, em 2004. Ele se separou da mulher e em 2009 e se casou com Elize. Três anos depois ela o matou. O crime teria ocorrido durante uma discussão do casal, ela com 30 anos e ele, 42 na época. Ela contratou um detetive para investigar o marido. Um vídeo mostrou o executivo abraçado com uma mulher, uma prostituta, na saída de um restaurante, na véspera do crime.
Depois atirar na cabeça dele e de esquartejá-lo em sete partes usando uma faca de cozinha, Elize contou que ensacou os pedaços, colocou em malas e depois os espalhou em cinco terrenos de Cotia, na Grande São Paulo. A família do empresário denunciou o desaparecimento no dia 21 daquele mês. Duas semanas depois, Elize foi presa e confessou o crime. O casal tem uma filha, atualmente com 5 anos, que está sob cuidados de familiares do pai.