Brasil

Estudante que acusou ITA de preconceito quer fazer doutorado no exterior

Talles Faria tem planos de estudar engenharia em redes complexas; em nota, a FAB afirma que o formando cometeu transgressões passíveis de punição a qualquer militar

Azelma Rodrigues - Especial para o Correio
postado em 22/12/2016 06:00
Talles (de vestido cor de vinho) durante formatura no ITA no último sábado: críticas a preconceito contra gays
Quarenta e oito horas depois da repercussão do protesto contra o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o engenheiro Talles de Oliveira Faria, 24 anos, faz planos de fazer doutorado em redes complexas fora do país. Na última segunda-feira, o site do Correio Braziliense divulgou, com exclusividade, o ato do estudante contra o centro de ensino. Ontem, a Aeronáutica, em resposta a uma demanda do jornal, falou que Talles teria cometido ;diversas transgressões disciplinares;, que seriam ;passíveis de punição e se aplicariam a qualquer militar;. O jovem, no entanto, afirma que foi pressionado a pedir licenciamento do serviço ativo da Força Aérea.

Segundo a Aeronáutica, o estudante teria feito a opção por formar-se como engenheiro civil e não como engenheiro militar. ;Ele alega ter sido pressionado a fazer tal requerimento, no entanto esta foi uma decisão unilateral do próprio ex-militar, com a intenção de permanecer cursando o ITA, uma vez que as diversas transgressões disciplinares que cometeu levariam a um comprometimento de sua avaliação como militar;, diz a nota.

Após o posicionamento oficial da Aeronáutica sobre o protesto, Talles respondeu à nota com indignação. ;A resposta (do ITA) é vergonhosa, um insulto claro à minha pessoa. A minha decisão de pedir licença foi baseada na perseguição deles, se eu não fizesse, seria desligado não só da Força Aérea, como militar, mas também do ITA. Corria o risco de perder minha graduação, era óbvio que a única decisão era essa;, afirmou ao Correio.

Faria diz, ainda, que seu objetivo principal é levar os militares a repensaram as rígidas regras dos quartéis e a promover mudanças. De acordo com ele, ;começar ensinando as crianças a respeitar a diversidade do outro, que não se deve esconder a opção sexual; é primordial.

Desde a cerimônia, ocorrida no sábado passado, e com a presença do ministro da Defesa, Raul Jungmann, a aparição de Talles em trajes femininos foi um dos assuntos mais comentados na internet. O engenheiro tem dedicado grande parte do tempo em responder e postar novas mensagens nas redes sociais, acusando o ITA e o ambiente militar de ser ;homofóbico, com reações violentas, de menosprezo e desrespeito; à diversidade sexual de seus alunos. O ministro Jungmann não comentará o assunto, segundo informaram seus assessores.

Sobre a justificativa do órgão de que as transgressões por ele praticadas são passíveis de punição para qualquer militar, Talles rebate. ;A questão-chave é essa, não é qualquer militar que é punido, outros fazem e não são punidos. Eu fui porque não queriam a imagem da FAB associada a um LGBT, isso incomodava todos os militares homofóbicos. É passível de punição, mas só o LGBT é punido. É o discuso que cabe, porque ou falam isso ou assumem que são homofóbicos, que têm um problema que precisam trabalhar, o que seria muito mais bonito, mas preferem mentir;, pondera.
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