"Não é possível considerar as violências de gênero, como a sofrida pelas mulheres em Campinas, como casos isolados ou frutos de uma vingança pessoal. Ao contrário, tratam-se de casos de machismo e misoginia, que expressam a cultura de violência a qual todas as mulheres estão submetidas diariamente no Brasil", diz o texto.
Na nota, a entidade manifesta repúdio aos assassinatos e diz que é "inadmissível" que as mulheres continuem a ser assassinadas e que "os crimes de ódios às mulheres sejam disseminados, vilipendiando a memória das vítimas com pretensos elementos de justificativa e de banalização dos assassinatos".
A ONU Mulheres apela ainda para que investigadores incorporem a perspectiva de gênero nos processos e apliquem a Lei do Feminicídio (Lei n; 13.104/2015). "Por fim, a ONU Mulheres conclama as autoridades públicas de todo o país para investimentos concretos e transparentes em políticas públicas para as mulheres."
A chacina
O técnico de laboratório Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, matou o filho, a ex- mulher e mais 10 pessoas que comemoravam o Revéillon na casa de uma das vítimas, em Campinas, no interior do Estado. Depois de atirar nos convidados, Araújo se matou. O crime, segundo a polícia, ocorreu porque ele não aceitou perder a guarda do filho.
Ramis deixou cartas e áudios gravados tentando justificar as mortes. No material, obtido com exclusividade pelo Estado, ele afirma que as acusações de que teria abusado do menino são mentira, diz que foi vítima de uma injustiça e de uma "sacanagem" e que não conseguia mais "suportar tudo isso".
Para se referir à ex-mulher, Isamara Filier, à mãe dela e a outras mulheres da família dela, ele só usa uma palavra, o tempo todo: "vadia". E revela os planos de matá-las. "Quanto mais ela distanciar ele de mim, mais ódio eu fico dela e menos peso na minha consciência eu vou ter", diz em um dos áudios, endereçado "aos policiais", modificado pela última vez no dia 30.
Por Agência Estado