A Secretaria da Saúde do Ceará notificou três casos suspeitos de mialgia aguda, conhecida como doença da urina escura. Um dos casos é de uma mulher que estava em Salvador, onde há um surto dessa doença. Os outros dois são homens do círculo de convivência da primeira. Esses são os primeiros prováveis casos da doença misteriosa além das fronteiras da Bahia, onde foram feitas 52 notificações.
Os pacientes relataram sintomas como dores musculares intensas de início súbito, principalmente na região cervical, membros inferiores e superiores e mudança na tonalidade da urina, variando entre o vermelho escuro e o castanho. Nenhum deles apresentou febre ou dor de cabeça. Amostras de urina, fezes e sangue dos pacientes afetados foram encaminhados para o Laboratório Central do estado. As secretarias de saúde dos dois estados nordestinos e dos municípios monitoram a ocorrência e investigam os casos. As causas da doença ainda não são conhecidas, mas a principal suspeita é de contaminação provocada por consumo de peixe. Amostras de animais in natura seguiram para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para investigação de metais pesados. Duas amostras de peixes consumidas por pacientes serão enviadas para análise em laboratório do Alabama (EUA).
Segundo o último informe epidemiológico sobre a doença divulgado pela Secretaria da Saúde da Bahia, os 52 casos foram notificados entre os dias 14 de dezembro e 5 de janeiro, sendo 50 em Salvador, um em Vera Cruz e outro em Lauro de Freitas. O governo baiano confirmou duas mortes.Uma delas foi de um homem que apresentava os sintomas e faleceu no dia 31 de dezembro, no município de Vera Cruz. A outra vítima tinha problemas de saúde como hipertensão, além de idade avançada.
O médico infectologista e professor na Universidade Federal do Ceará, Anastácio Queiroz alerta que ;quando o paciente possui uma doença de base, a mialgia aguda pode ser mais grave;. Ele explica que o diagnóstico epidemiológico ;é feito através da exclusão de outras doenças e medicações, até chegar na provável causa;.
Os sinais e sintomas apresentados pelos pacientes são: dores musculares intensas, que acometem principalmente a região cervical e o escurecimento da cor da urina. Em alguns casos, a doença atingiu familiares em um curto intervalo de tempo, o que sugere uma fonte de contaminação comum. ;Podemos ter casos isolados de baixa intensidade, provavelmente devido a um menor consumo do alimento contaminado. Porém, quando temos casos mais graves intensos dá um alerta. Não podemos descartar a hipótese de que acontece em outros estados;, explica o infectologista. A manifestação dos sintomas dos pacientes brasileiros assemelha-se a pequenos surtos ocorridos no exterior, como no Japão, entre 2008 e 2014, na França, entre 2008 e 2010, e na Dinamarca, em 2014.
A doença não possui um tratamento específico. A recomendação é observar a mudança na tonalidade da urina. Nesse caso, os especialistas indicam a hidratação imediata do paciente. O uso de anti-inflamatórios não é recomendado. Em nota, o Ministério da Saúde informa que também acompanha a investigação de casos suspeitos de mialgia aguda tanto na Bahia quanto no Ceará. Informa ainda que não há outros casos suspeitos nas demais unidades da Federação.