Ana Carolina Fonseca*
postado em 30/01/2017 18:42
A partir da última sexta-feira (27/1), funcionários transexuais, transgêneros e travestis do Banco do Brasil podem, por norma, usar o nome social dentro da empresa. A mudança, feita a partir do pedido de cada funcionário, vale para crachá, cartão de visitas, carimbo e e-mail institucional. Embora outros bancos também permitam a adoção do nome social, esta é a primeira vez que uma instituição financeira do país normatiza essa atitude, ou seja, agora o apoio é uma posição oficial do Banco; o processo só depende da vontade do empregado. Bem a tempo para a comemoração do Dia da Visibilidade Trans, comemorado no último domingo (29/01).
"Ter uma instituição desse porte, que me legitima dentro da minha orientação de gênero é fantástico", comemora Luiza Lemos, 39 anos, caixa do banco em Paraty (RJ). Este é o principal ponto positivo da medida na opinião da bancária: a legitimação e a visibilidade. "As pessoas trans são invisíveis. Isso vai dar muito força para as pessoas que não têm muita esperança de conquistar um lugar melhor na sociedade", destaca.
Para José Caetano Minchillo, diretor de Gestão de Pessoas do Banco do Brasil, a medida traz mais transparência e clareza dos direitos dos funcionários. "Estamos trilhando um caminho contra o preconceito e de respeito à individualidade", afirma. O gestor ressalta que a política de permitir a utilização do nome social já é praticada há um tempo, mas dependia de autorização do pedido.
Segundo Minchillo, a mudança foi bem recebida dentro da instituição, considerada por ele precursora na luta por diversidade. Como exemplo, o diretor citou políticas internas de gênero, raça e equidade, voltadas também para funcionários com deficiências, apoio a pais de crianças com dificuldade de aprendizado e licença paternidade.
Luiza Lemos relata, ainda, que recebeu muito apoio dos colegas de trabalho e, desde que a mudança de gênero ocorreu, em setembro do ano passado, é tratada pelo nome social que escolheu e com os pronomes adequados. Os únicos problemas foram com clientes, mas a funcionária garante que, mesmo assim, foi tranquilo. "Foi questão de explicar para a pessoa e desde então está tudo bem", garante.
Além trabalhar no banco, Luiza também dá aulas de desenho de quadrinhos, na Casa de Cultura de Paraty. O talento para o desenho também virou ativismo: com uma página no Facebook, a Transistorizada, Luiza conta, por meio de histórias em quadrinho e tirinhas, sua experiência. "É para falar dos problemas que passamos no dia a dia, transfobias, preconceito", explica. O diferencial é que as histórias são contadas com um viés de humor: "O Brasil é um país muito preconceituoso e violento, sempre que se fala nesse assunto tem um peso muito grande".
Luta pela identidade
Em abril do ano passado, a então presidente Dilma Rousseff assinou o decreto que estabelece o direito do uso do nome social na administração pública federal direta, autárquica e funcional. A mudança valeu, por exemplo, para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Banco do Brasil não entra nessa regra, mas o diretor José Caetano Minchillo garante que a iniciativa da instituição é justamente para ir "além da legislação, tentando dar oportunidades iguais para todos".
A dificuldade para conquistar direitos, mostrada pelo Correio no especial Transexuais no Brasil: uma luta por identidade, afeta vários aspectos da vida de pessoas trans e travestis, como o acesso ao mercado de trabalho, saúde e outros direitos.
*Estagiária sob supervisão do editor Anderson Costolli