A sensação de insegurança continua no Espírito Santo, com a paralisação de serviços públicos. Escolas, postos de saúde, supermercados e empresas permanecem de portas fechadas. Apesar de alguns ônibus terem voltado a circular, a população segue com medo de sair de casa. Ao longo do dia de ontem, ocorreram trocas de tiros em Vila Velha e saques em Vitória. Houve também um caso de um policial civil assassinado ao tentar evitar um assalto.
[SAIBAMAIS]O policial civil foi morto ao tentar impedir um ataque a um motociclista na BR-259, altura de Colatina. Segundo informações do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol), o agente estava com um colega quando percebeu o assalto. Ao verem os dois policiais, os criminosos atiraram contra eles e balearam o policial Mário Marcelo de Albuquerque, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil. O agente morreu ao dar entrada no hospital.
As cidades capixabas estão sem a PM nas ruas por conta de um protesto de familiares dos militares, que bloqueiam as entradas e saídas dos quartéis. Ontem à tarde, houve um conflito em frente ao Quartel do Comando-Geral da PM capixaba. Agentes do Exército que foram reforçar o policiamento nas ruas da Grande Vitória precisaram atuar para acabar com a briga entre manifestantes contrários ao movimento e mulheres de PMs.
Os casos de homicídios também seguem em alta na capital do estado. Segundo o Sindipol, o número de mortos desde sexta-feira já passa de 70 ; durante o mês de janeiro, foram quatro casos. A aposentada Maria da Conceição Lisboa, de 76 anos, afirma que está presa em casa, com a família, e quem tenta sair se depara com a violência. ;Estamos sem poder sair de casa desde a sexta-feira à noite, quando os protestos começaram na frente do quartel. Meus filhos estão sem ir ao trabalho. O meu vizinho foi buscar o filho no terminal de ônibus. Chegando lá, ele foi abordado por criminosos e se assustou. Ao demonstrar espanto por conta da situação, ele foi alvejado por criminosos e morreu antes de sair do terminal;, conta Maria.
Além de pelotões com mil militares das Forças Armadas, ao menos 200 homens da Força Nacional seguiram para Vitória. De acordo com o Ministério da Defesa, a previsão é que eles fiquem no estado até quinta-feira da semana que vem.
Em Vila Velha, criminosos trocaram tiros no meio da rua, durante o dia. O Espírito Santo ainda registra casos de vandalismo, saques a supermercados e veículos incendiados tanto na capital quanto no interior. O Ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirma que o contingente enviado ao estado vai depender da necessidade.
Críticas
A professora Tânia Montoro, do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de Brasília, destaca que o movimento dos policiais escancara a falta de segurança. ;Os criminosos estavam lá, em meio à sociedade, mesmo com os policiais trabalhando. Com o aquartelamento dos militares, eles encontraram espaço para cometer crimes. Mas isso demonstra que as forças de segurança não estão sabendo resolver o problema da violência. O policial fez um juramento, assim como fazem os médicos, professores. Eles não podem deixar a população desprotegida;, afirma Tânia.A especialista alerta que as falhas não ocorrem apenas no policiamento, mas, sim, em setores responsáveis pela punição e controle dos agentes do Estado. ;A violência não é só uma questão de polícia. A impunidade da lei em nosso país favorece a violência. No Canadá, existe a prevenção do crime. Alguém que roubou três vezes não está mais na rua. No Brasil, a própria seleção dos agentes da lei ocorre de forma errada. Uma prova não é capaz de avaliar quem tem aptidão para o cargo. Sem entrar no mérito do salário dos policiais, não é correto deixar a população à própria sorte. Quem não está satisfeito com o cargo no qual foi aprovado em concurso, que saia;, completa a especialista.