As principais cidades do Brasil começam a viver o clima de carnaval. Apesar das crises financeira e de segurança pública e das condições climáticas que provocaram o cancelamento das festividades em dezenas de municípios, a festança está garantida nos maiores destinos de turistas. Os governos, no entanto, correm para garantir estrutura física, segurança e atrações musicais com verba reduzida.
No Recife, a decoração carnavalesca será inspirada no grafite. Seis grafiteiros e um coletivo pintaram murais pela cidade a convite do prefeito Geraldo Julio. Os desenhos foram impressos e viraram adereços. Cordões de fita, banners e totens já estão sendo fixados. A promessa é de que a decoração esteja completa até amanhã. A prefeitura anunciou economia de R$ 8 milhões aos cofres públicos no carnaval de 2017.
No Rio de Janeiro, dos 451 blocos, cerca de 55 não sairão às ruas por falta de patrocínio. Na Bahia, os gastos públicos foram reduzidos em 10% e blocos tradicionais vão ficar de fora, entre eles, o Cheiro de Amor, fundado em 1985, um dos mais antigos. Outros reduziram a participação. Nos estados mais afetados, a crise força os foliões a usarem a criatividade para fazer o próprio carnaval. Sem bandas famosas ou trios elétricos, a população dará o ritmo da folia.
No Ceará, 12 prefeituras anunciaram que não disponibilizarão verba pública para o carnaval. Mas a folia está garantida na capital. Serão quatro dias de festa. Em nota, a prefeitura de Fortaleza anunciou investimento de R$ 530 mil em 58 blocos de rua e R$ 894 mil destinados a 35 agremiações que desfilarão na Avenida Domingos Olímpio, contemplados em edital público. Fortaleza é a quinta capital mais procurada do país para o carnaval, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio do Brasil.
Influência do mercado
Em Minas Gerais, a crise financeira provocou o cancelamento oficial do carnaval em pelo menos 56 municípios. Antônio Andrada, presidente da Associação Mineira de Municípios, explica que o carnaval é uma festa popular que não precisa de investimento público para acontecer. ;Os carnavais, nos últimos anos, sofreram muita influência mercadológica quando na essência é uma coisa espontânea, o povo que faz. O carnaval do Rio é negócio, tem patrocínio, cobra-se ingresso. A festividade bancada pelos governos nos municípios, com bandas, trios, é distorção. Agora está voltando às origens, carnaval de rua, feito pelo povo;, afirma.
O clima de insegurança no Espírito Santo provocou o cancelamento da maior festa nacional em pelo menos 29 cidades. O pânico assola os moradores desde que o estado ficou sem a atuação da Polícia Militar nas ruas no início do mês. Em apenas 10 dias, foram registradas 147 mortes violentas, de acordo com o Sindicato de Policiais Civis.
Arthur Trindade, sociólogo da Universidade de Brasília e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, acredita que os problemas de segurança que alguns estados enfrentam não trarão consequências graves durante as festividades. ;O carnaval, via de regra, é bem-sucedido. A segurança funciona bem nesses eventos, o planejamento é benfeito. Pode ter alteração, mas é muito mais ameaça e não deve se concretizar;, acredita.
* Estagiária sob a supervisão de Roberto Fonseca