postado em 01/03/2017 17:20
Fechando o carnaval dos blocos de rua não oficiais nesta quarta-feira de Cinzas (1/3), o Bloco das Mulheres Rodadas desfilou na zona sul do Rio de Janeiro contra o machismo, a misoginia, o racismo e a homofobia. O percurso começo no Largo do Machado com os versos tropicalistas ;Eu organizo o movimento, eu oriento o carnaval; e seguiu até o Aterro do Flamengo, com músicas icônicas como Alguém me avisou, de Dona Ivone Lara, Tieta, de Caetano Veloso, Geni, de Chico Buarque, e Hoje, de Ludmila.
Uma das organizadoras do bloco, a jornalista Renata Rodrigues diz que o alerta contra o machismo continua muito necessário, lembrando da agressão sofrida no domingo de carnaval por mulheres que faziam campanha contra o assédio. ;É por isso que a gente faz o que a gente faz.;
Este ano, o terceiro em que o bloco sai, as homenageadas foram mulheres da música e da cultura brasileiras. ;A gente homenageou sete mulheres da música e da cultura brasileira, com os estandartes que a gente trouxe. Algumas são compositoras de músicas que estão no repertório do grupo, como Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Gretchen e Frenéticas;, explica Renata.
A foliã Mônica Ramalho, também jornalista, diz que gosta do Mulheres Rodadas porque as ações do bloco não se restringem ao carnaval. ;O diferencial é que ele está ativo o ano todo, não só para o carnaval, mas para falar do feminismo, da importância de valorizar a mulher, contra o machismo. As organizadoras do bloco batalham o ano todo pelo feminismo, elas estão na ativa o ano todo. Eu achei o meu bloco.;
Vestida de Mulher Maravilha, a jornalista Flávia Dias explica que o nome do bloco é uma resposta ao machismo, num manifesto ;zoeira; contra falas do tipo ;eu não mereço uma mulher rodada;, ou seja, que teve muitos parceiros sexuais. Integrante do coletivo Deixa ela em paz, Flávia diz que está na hora de as mulheres pararem de se esconder e se assumirem como feministas.
;Não tem que se esconder. Feminismo não é o contrário de machismo, isso seria ;femismo;. O que a gente quer é igualdade de direitos, os cargos, os salários, a liberdade de andar na rua sem ser assediada, tudo o que o patriarcado tira da gente todos esses anos. Só isso. Se a gente sofre uma pressão dos homens, eles precisam ser conscientizados para a gente poder parar de sofrer isso, então precisa desse diálogo [com os homens];.
Trepadeiras
A cantora e atriz Maria Talita de Paula acompanhou o Mulheres Rodadas com o seu Bloco das Trepadeiras, criado há 9 anos. ;São mulheres vestidas de planta, cada uma com um nome, como Maria Sem Vergonha, Beijo Pintado, Dama da Noite, Flor do Cerrado, Sempre Viva. A gente vai na frente dos blocos, procura um lugar pra trepar e espera o bloco passar.;
Para ela, as campanhas contra o assédio e de empoderamento das mulheres no carnaval têm surtido efeito. ;O bloco é a representação da liberdade das mulheres, aqui é nosso corpo, nossas regras mesmo, unidas somos mais fortes, vários grupos de mulheres vêm para se sentir acarinhada até, pelo empoderamento. Quando eu criei o bloco, em 2008, não tinha essa campanha contra o assédio e chegamos a passar por situações em blocos da zona sul, tivemos que ir embora porque tinham homens que não entendiam que o nosso corpo não é deles. Agora estamos com mais adesão, é impressionante as mulheres poderem andar de peito de fora, de biquíni fio dental e sendo respeitadas.;