Natália Lambert
postado em 21/03/2017 11:08
Em mais uma das consequências da crise econômica, o Brasil manteve o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estável, interrompendo um crescimento contínuo desde 2010 e, possivelmente, dos últimos 25 anos. Divulgado na manhã desta terça-feira (21/3) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH brasileiro para 2016, baseado em dados de 2015, permaneceu em 0,754. Em uma análise entre 188 nações, o país seguiu na posição 79 do ranking e faz parte de um pequeno grupo de 16 que ficaram estagnados -- 159 aumentaram e 13 diminuíram. O índice ficou estável, principalmente, por causa queda na renda das famílias e, para especialistas, é um alerta amarelo.
Desde 1990, quando o IDH começou a ser medido, o Brasil cresceu 23,4% e, apesar de os dados até 2010 estarem disponibilizados de cinco em cinco anos, acredita-se que é a primeira vez que o número ficou estacionado. ;O aumento do Índice de Desenvolvimento Humano é muito sensível e baseado em questões estruturantes. Ano a ano, a maioria dos países melhora no IDH. A gente tem que pensar porque no Brasil as coisas pararam depois de tanto tempo de melhoria ininterrupta. É um alerta para a gente olhar com atenção, entender e pensar o que precisa ser feito. Se a gente quer ser um país melhor, qualquer coisa que nos freie é preocupante;, alerta Andréa Bolzon, coordenadora de desenvolvimento humano nacional.
O foco principal do relatório global deste ano é o olhar para os excluídos. Nas últimas décadas, houve muitos progressos no desenvolvimento das nações, mas ele não foi para todos. De acordo com o documento, uma em cada três pessoas no mundo ainda vive em um nível de desenvolvimento humano baixo. ;Os povos indígenas, habitantes das zonas rurais, pessoas com deficiência, minorias étnicas, migrantes, LGBTI, refugiados e as mulheres são exemplos de grupos vulneráveis que sofrem em maior medida com as crises mundiais. É urgente e necessário que sejam fortalecidas as políticas de redução das desigualdades;, comentou o coordenador residente do sistema ONU e representante do PNUD no Brasil, Niky Fabiancic.
Desigualdade
Apesar de continuar na faixa de Alto Desenvolvimento Humano, quando o IDH brasileiro é ajustado ao índice de desigualdade, o país perde 19 posições e se enquadra no grupo de países que mais são penalizados. É o terceiro país que mais perde posições na questão, empatado com a Coreia do Sul e o Panamá. O país só perde para o Irã, que cai 40 posições e Botsuana, que cai 23. Com esse olhar, de ;não ficar ninguém para trás;, o PNUD está atento às reformas que estão sendo propostas no Brasil, entre elas, a previdenciária, trabalhista e tributária. ;Sabemos que é um tema importante para o Brasil e é necessário ter muito cuidado para que pessoas mais suscetíveis à vulnerabilidade não fiquem mais expostas. A gente confia que a pauta é necessária, mas é importante que não se coloque conquistas históricas em risco;, comenta Andréa. Segundo a coordenadora, há um diálogo em curso com outras agências da ONU para analisar as reformas mais profundamente.
O que é o IDH
Anualmente, desde 1990, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) faz uma análise entre 188 países sobre o desenvolvimento humano e o desenvolvimento sustentável. Até então, o único conceito que definia se um país era desenvolvido era o Produto Interno Bruto. O Índice de Desenvolvimento Humano engloba três questões estruturais: saúde, conhecimento e padrão de vida. O número é atualizado de acordo com a melhora em análises de expectativa de vida, média de anos de estudo, anos esperados de escolaridade e Renda Nacional Bruta (RNB) per capita.