Brasil

Brasil está em 60º lugar em infraestrutura do transporte público

Até mesmo entre os Brics, grupo no qual o país já foi considerado uma locomotiva, nosso avanço é menor do que o dos demais

Margareth Lourenço - Especial para o Correio
postado em 03/04/2017 06:00
Carcaça: tanques de combustível de composição férrea, atingidos por tromba d´água no início do ano passado, seguem abandonados em Goiás
O Brasil, que já ocupou o sétimo posto no ranking econômico, e desceu dois degraus desde o acirramento da crise, simplesmente é defenestrado da lista quando o tema é infraestrutura em transportes. ;Nossa matriz tem uma relação muito desequilibrada. Tanto que, dentre 61 países, ficamos em 60; lugar no indicador de qualidade do setor de infraestrutura;, assinala Paulo Resende, doutor em Transportes pela Fundação Dom Cabral, citando o relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial. ;Até entre os Brics, temos o menor avanço;, ressalta o professor, referindo-se ao grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

[SAIBAMAIS]O Brasil passou a depender do modal rodoviário. ;Enquanto a média no mundo é 45% em transporte ferroviário e 40% em rodoviário, o Brasil concentra 62% na modalidade rodoviária e apenas 22% em ferrovias;, diz Resende. Com pouco menos de 29 mil km de trilhos implementados, há apenas 12 mil km transportando carga. ;E isso também não significa uma rede, pois devido à grande variedade de bitolas, que é distância entre os trilhos, uma linha não pode se conectar a outra;, explica o também doutor em transportes e professor na Universidae de Brasília (UnB), Joaquim Aragão.


O país precisaria, no mínimo, de 50 mil quilômetros de linhas. ;Isso daria um salto impressionante no desenvolvimento do país;, avalia Resende. Na contramão dessa necessidade, ;dia a dia os trilhos diminuem por aqui;, constata o presidente da Frente pela Volta das Ferrovias (Ferrofrente), José Manoel Vieira Gonçalves. Ele culpa a falta de planejamento a longo prazo e ;concessões malfeitas, que não se preocuparam com a qualidade dos serviços e permitiram o abandono das linhas consideradas antieconômicas;.

;O Brasil passou 70 anos quase sem investir em ferrovias até ter obras contempladas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento);, afirma Resende. De acordo com informações no site do Ministério do Planejamento, em fevereiro deste ano, há o reconhecimento de que as ferrovias são o ;principal meio de escoamento da produção para exportação;.

Radiografia

Uma radiografia do PAC de 2007 a 2015, feita pela ONG Contas Abertas, aponta que, das obras previstas no eixo logístico, as ferrovias ficaram em pior situação, com iniciativas concluídas em R$ 5,9 bilhões. ;O valor equivale a 11,5% da previsão inicial de R$ 51,8 bilhões;. Quando as obras previstas no PAC para o modal estiverem 100% funcionando, o país terá alcançado 34% da sua necessidade, segundo Resende.

A Valec, empresa pública que constrói e explora ferrovias, tem, no momento, sob sua responsabilidade, duas obras: a extensão da Ferrovia Norte-Sul, de Ouro Verde (GO) a Estrela d;Oeste (SP), e a Fiol, ligando Ilhéus a Barrerias (BA). As duas deveriam ter sido entregues em dezembro de 2012, mas estão com prazos adiados para 2018 e 2019, ;condicionadas à liberação de recursos públicos;.

Já a Ferrovia Transnordestina teve as obras paralisadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em janeiro deste ano. Com pouco mais de 1.700 km, ligaria o litoral ao sertão passando por três estados nordestinos. O entrave à continuidade dessas obras é ;devido à falta de um planejamento territorial;, aponta Aragão, da UnB. Ele defende que ;não se pode achar que apenas a infraestrutura virá trazer desenvolvimento por si só;.

Dificuldades e vantagens

Contra
; Diferença nas bitolas, o que não permite a ligação de uma linha à outra
; Obtenção de licenças ambientais
; Modelo de concessões ainda não aprovado
; Custo elevado dos projetos e da conservação das ferrovias

A favor
; Descongestionamento das estradas
; Trem necessita de 15m de largura na via no lugar de 25m dos demais veículos
; Com 4 carros transporta, aproximadamente, 1.000 pessoas, o que precisaria de 13 ônibus
; Mais seguro, custo menor do transporte e polui menos a atmosfera
; Otimização do escoamento da produção agrícola. Ha estimativas que apontam a perda de 30% do dos produtos pelo caminho.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação