Gabriela Vinhal
postado em 06/04/2017 17:53
O deputado Jair Bolsonaro (PMDB-RJ) é acusado de racismo após fazer declarações polêmicas sobre índios e negros em uma palestra no Rio de Janeiro (RJ). Uma representação contra o parlamentar foi protocolada na tarde desta quinta-feira (6/4), na Procuradoria Geral da República (PGR). O documento foi elaborado pela Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), junto à organização Terra de Direitos. Segundo a PGR, a representação foi entregue às 15h e deve ser analisada. Entretanto, não há um prazo para a resposta. Caso o órgão aceite a representação, será aberto um processo contra o parlamentar, que deverá ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na última segunda-feira (3/4), Bolsonaro disse durante um bate-papo em que foi convidado pelo Clube Hebraico, do Rio, que as reservas indígenas e quilombolas atrapalhavam a economia do país. "Eu já fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles", afirmou.
Segundo a representação entregue hoje, o deputado compara as pessoas pertencentes à comunidades negras a um animal, que tem a massa corporal medida através de arrobas. No texto, as organizações explicam ainda que, ao se manifestar publicamente desta forma, o deputado corrobora o discurso racista de ódio onde quilombolas não teriam lugar ou função na sociedade brasileira. Além disso, "o parlamentar desvirtua as políticas públicas destinadas às comunidades, sugerindo que seriam um gasto desnecessário do orçamento público."
Para Givânia Maria da Silva, uma das integrantes do CONAQ responsáveis pelo documento, "o parlamento brasileiro e o MPF não podem deixar que Bolsonaro use o espaço para propagar racismo, machismo e violências de todas as naturezas". De acordo com ela, se os órgãos forem coniventes com esse comportamento, "estarão desmoralizados e, consequentemente, a sociedade não terá mais em quem confiar". "Exigimos justiça: condenação por crime de racismo e perda do mandato por falta de decoro parlamentar."
Já o assessor jurídico da Terra de Direitos Fernando Prioste explica que esse tipo de agressão é de origem escravocrata, que perpetua opressões racistas seculares na sociedade. "Bolsonaro faz política através do ódio e da opressão. O racismo explícito que dirigiu aos quilombolas é expressão latente do que há de pior em nossa sociedade. Isso precisa ser combatido", critica. O advogado destacou ainda a importância da atuação do sistema de justiça nesses casos.
Na palestra, o peemedebista ainda atacou os ex-presidentes petistas Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, ironizou sua possível candidatura à Presidência da República e afirmou que, se presidisse o país, não dará dinheiro para as Organizações Não-Governamentais: "Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola."
O Correio entrou em contato com a assessoria de imprensa de Bolsonaro que, por sua vez, preferiu não comentar o caso.