Mirelle Bernardino*
postado em 07/04/2017 10:28
O Ministério da Educação apresentou a última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e o ensino fundamental. Esta é a terceira versão do projeto que traz mudanças no currículo de todo o país. Segundo o governo, é uma padronização de conteúdos usada pelos países desenvolvidos para manter a qualidade. As alterações, que devem atingir 190 mil escolas, precisam ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Após aprovação no conselho e homologação pelo ministro da Educação, as escolas estaduais e municipais terão o prazo de dois anos para promover as mudanças nos currículos. Entre as mudanças está a de que todas as crianças devem estar alfabetizadas no fim do segundo ano do ensino fundamental, aos sete anos. O prazo anterior era até a terceira série. Outra alteração é a obrigatoriedade do ensino de inglês.
O bombeiro Petronilio dos Santos, 45 anos, é pai de Miguel Simplício, de nove anos. O garoto está no terceiro ano e já mantém a disciplina nas tarefas. Petronilio vê como positiva as mudanças, mas ressalta que ainda são insuficientes para melhorar a qualidade. ;A escola precisa de muitas mudanças para atingir a qualidade esperada. Antigamente havia matéria que ressaltava o respeito entre as pessoas. É importante que os pais também participem da vida escolar dos filhos;, argumentou.
O texto do projeto inclui as novas tecnologias nas escolas. Entre 10 competências que devem ser desenvolvidas nesta fase da educação, está a de ;utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética;. O projeto, que foi criado após uma consulta pública pela internet e com participação de especialistas de 37 universidades, regulamenta o direito de aprendizagem e desenvolvimento para crianças e bebês com idades entre seis meses e seis anos.
[SAIBAMAIS]Para a coordenadora do Le Petit Galois, Rosa Cavalcante, a reforma é um ganho para a alfabetização. ;Toda intenção dela é que ele dê o mínimo de equidade aos alunos.; Já a especialista em alfabetização e professora do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Iesb, Marli Assis destaca que a proposta é interessante para garantir às crianças desde cedo o contato da leitura e escrita. Contudo, ela não descarta o papel do governo com o ensino e aplicação do conteúdo. ;A formação do professor precisa ser adequada, e não podemos tirar o papel da família nos auxiliando.;
Desigualdade
Dois assuntos estão fora do currículo do ensino fundamental, de acordo com o documento: o conteúdo sobre identidade de gênero e a disciplina de ensino religioso deixam de integrar a proposta de educação para crianças e adolescentes. De acordo com o MEC, a base curricular já defende o ;respeito à pluralidade;. Já a educação religiosa deve ser regulamentada por estados e municípios.
A biomédica Tatyanna Souza, 38 anos, é mãe dos gêmeos Lorenzo Galante e Paola Galante, de três anos. Os filhos estudam em uma escola maternal no Cruzeiro. Para Tatyanna, as mudanças só vão funcionar na teoria. ;Essa meta de alfabetização estipulada pelo governo não funciona na prática. Temos um país com grandes desigualdades sociais e ainda vemos uma grande diferença entre as escolas públicas e particulares. O governo cria regra que ele mesmo não poderá cumprir;, afirmou a profissional de saúde.
* Estagiária sob supervisão de Leonardo Cavalcanti, editor de Brasil