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Justiça envia PF e diz que irá "averiguar" ataque a índios no Maranhão

Indígenas da etnia gamela são hospitalizados após disputa por terra com fazendeiros em Viana (MA). Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), um deles teve as duas mãos decepadas

postado em 02/05/2017 07:45
Estrada que leva ao povoado, em Viana: atualmente, há cerca de 360 conflitos no campo no estado
O Ministério da Justiça e Segurança Pública investigará o conflito entre agricultores e índios ocorrido no último domingo, no povoado de Bahias, em Viana (MA), a 214 quilômetros de São Luís. A pasta enviou, na tarde de ontem, uma equipe da Polícia Federal ao município ;para evitar mais conflitos;. Segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), cinco índios foram baleados e um teve as mãos decepadas. ;Chega a 13 o número de feridos a golpes de facão e pauladas;, divulgou. Até o fechamento desta edição, três índios estavam hospitalizados em estado grave.

Em nota, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, afirmou que ;ofereceu apoio à Secretaria de Segurança Pública que, por sua vez, instaurou inquérito para investigar o caso;. Primeiramente, o MJ declarou que ;está averiguando o ocorrido envolvendo pequenos agricultores e supostos indígenas no povoado de Bahias;. Posteriormente, enviou nova nota substituindo os termos ; pequenos agricultores; e ;supostos indígenas; por ;conflito agrário;. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), há cerca de 360 conflitos no estado. No ano passado, 13 pessoas foram assassinadas e 72 estão ameaçadas de morte.

[SAIBAMAIS]No conflito do domingo, segundo a CPT, Aldeli Ribeiro Gamela foi atingido por um tiro na costela e um na coluna e teve as mãos decepadas e joelhos cortados. O irmão, José Ribeiro Gamela, levou um tiro no peito. O terceiro atingido foi o indígena e agente da CPT no Maranhão Inaldo Gamela, com tiros na cabeça, no rosto e no ombro. ;Essa violenta ação aconteceu quando os indígenas decidiram sair de uma área tradicional retomada, prevendo a violência iminente. Dezenas de pistoleiros armados com facões, armas de fogo, e pedaços de madeira atacaram os gamela no momento em que deixavam o território. Para se proteger, muitas pessoas correram e se esconderam na mata;, informou a CPT.

De acordo com a Pastoral, a ação contra os índios foi planejada por fazendeiros e pistoleiros, que, por meio de textos compartilhados pelo celular convocaram pessoas para o ataque. ;Houve convocação também em uma rádio. As pessoas falavam que iam para o povoado porque os índios são vagabundos, ladrões;, contou a representante do Cimi no Maranhão, Rosimeire Diniz. ;O governo do Maranhão já havia sido avisado da situação conflituosa e do risco de acontecer um massacre;, destacou a CPT.

As informações das entidades e do governo estadual são conflitantes, inclusive, em relação ao número de feridos. Em comunicado, o governo disse que a polícia atuou para evitar uma tragédia maior. ;Durante o confronto, sete pessoas ficaram feridas, sendo cinco gamelas e dois não gamelas. Um dos gamelas teve fratura exposta nas mãos, foi operado e continua internado. Dos sete feridos, três permanecem internados.; O governo não reconhece a informação sobre mãos decepadas.

Sucuteada
As lideranças indígenas cobram investigação para descobrir a autoria do atentado. Elas também exigem do governo do estado e da Fundação Nacional do Índio (Funai) proteção para as famílias gamelas. O órgão montará um comitê de crise para investigar o ocorrido. O atentado ocorre em meio a um conflito político na Funai. Na última quinta-feira, o presidente do órgão, Antônio Fernandes Toninho Costa, chegou a passar mal enquanto negociava com lideranças indígenas acampadas na Esplanada. Costa tem enfrentado resistência no governo por ter se negado a nomear integrantes do PSC em coordenações de áreas técnicas. A pressão estaria vindo do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), e do ministro. Serraglio chegou a declarar que a ;Funai é do PSC;. Em entrevista ao Correio, Costa disse que seria demitido, mas o fato não foi oficializado.

A Funai completa 50 anos neste ano e se equilibra entre restrições orçamentárias e deficit de servidores. Sob pressão política da bancada ruralista, a fundação perdeu 347 cargos em março. A área de licenciamento ambiental foi a mais afetada, perdeu oito postos. Agora, o setor tem 10 técnicos para analisar cerca de três mil processos de licenciamento. Em 2016, a fundação sofreu corte de R$ 53,5 milhões, e em 2017, de quase R$ 19 milhões. Atualmente são 2.142 funcionários, quando o número total autorizado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão é de 5.965.

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