No hospital, Mateus Ferreira da Silva, 33 anos, está sedado e entubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiânia. Com traumatismo cranioencefálico e múltiplas fraturas, o estudante foi submetido nessa segunda-feira (1;/5) a uma cirurgia delicada na face, que durou cerca de quatro horas, e está com comprometimento renal e pulmonar. De acordo com parentes, o estudante foi diagnosticado com pneumonia. Também estava previsto para começar ontem o tratamento de hemodiálise. O estado de saúde dele ainda é grave.
A Polícia Militar de Goiás decidiu, ontem, afastar das ruas o capitão Augusto Sampaio de Oliveira Neto. Subcomandante da 37.; Companhia Independente, ligada ao Comando do Policiamento de Goiânia, ele foi filmado atingindo com um cassetete o jovem, na dispersão da greve geral de sexta-feira passada. Após repercussão da ação da PM contra manifestantes, o capitão foi afastado do policiamento ostensivo e deve se dedicar a atividades administrativas. A punição dura 30 dias, período em que será conduzido Inquérito Policial Militar sobre o caso. O prazo para a investigação ainda pode ser prorrogado por mais 15 dias, e depois o processo será encaminhado à Justiça. O Estado não conseguiu contato com Oliveira Neto.
O comandante-geral da corporação, coronel Divino Alves de Oliveira, classificou a ação como "incorreta". Disse também que a tropa usava material químico não letal. A restrição a atividades administrativas foi adotada porque não há punição que preveja afastamento total nessas circunstâncias. Já o secretário de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, afirmou nas redes sociais que uma "intervenção nunca tem como objetivo ferir as pessoas, mas imobilizá-las e conduzi-las à autoridade encarregada do processo de responsabilização".
No protesto do dia 28, a repressão teve início após a dispersão dos organizadores e a permanência de um grupo de jovens estudantes, a maioria deles mascarados. Durante a manifestação, vidraças de pelo menos um banco foram quebradas no centro de Goiânia.
[SAIBAMAIS]Não há imagens que liguem o estudante aos atos de vandalismo. Silva aparece apenas correndo no meio da multidão quando o militar corta o seu caminho e desfere o golpe. A pancada que o capitão desferiu contra o rapaz foi tão forte que arrancou a capa de borracha que encobre o cassetete. Além desse episódio, circulam pelas redes sociais imagens de quatro PMs batendo em uma jovem caída no chão. O próprio capitão é flagrado empurrando manifestantes.
A reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde Silva estuda, condenou "atos de repressão contra o direito à livre manifestação". O Ministério Público goiano informou que vai acompanhar todas as investigações para individualizar eventuais desvios de conduta.
Vigília
Na porta do hospital onde Silva está internado foi organizada uma vigília. Amigos e pessoas solidárias ao estudante chegaram a coletar dinheiro para ajudar a família - os pais e um casal de irmãos -, que veio de Osasco, na Grande São Paulo. A "vaquinha virtual" por Silva já havia alcançado R$ 14 mil em doações na tarde de ontem, com contribuições vindas de diversos Estados.
Formado em Tecnologia de Informação, Silva mudou de área e se transferiu para Goiânia com o objetivo de cursar Ciências Sociais. Atualmente desempregado, tinha planos de tentar recursos com monitorias na universidade e tentar vaga em um mestrado. O Diretório Central de Estudantes da UFG convocou para amanhã uma paralisação de alunos em protesto contra a violência policial no Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.