Nesta terça-feira (30/5), um sobrenome chamou atenção dos Policiais Militares de São Paulo que faziam uma ronda de rotina na região de Santo Amaro, na zona sul da capital paulista. Um rapaz loiro, maltrapilho e com sinais de uso de drogas tentava pular o muro de uma casa quando foi abordado pelos agentes de segurança. Era Andreas Albert Von Richthofen, de 29 anos, único irmão de Suzane Von Richthofen, condenada por assassinar os próprios pais em 2002.
Inicialmente, uma fonte do alto escalão do prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), havia informado ao jornal O Globo que Andreas estava na Cracolândia, região do centro da capital. Mais tarde, porém, a Policia Militar esclareceu que Andreas havia sido encontrado em Santo Amaro, em uma área residencial e que não é ponto de encontro de usuários de drogas.
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Andreas estava tentando pular o muro de uma casa, quando foi avistado por PMs que faziam ronda. O rapaz chegou a machucar a perna na tentativa de entrar na residência, mas os policiais o capturaram e, notando que ele estava em "estado de surto", o encaminharam ao Hospital Municipal do Campo Limpo, onde ficou na unidade psiquiátrica até ser transferido pelo tio Miguel Abdallah, médico e antigo tutor do jovem, para uma clínica particular.
[SAIBAMAIS]De acordo com profissionais que atenderam Andreas e que falaram com a reportagem do O Globo, ele estaria sujo, com vários ferimentos pelo corpo e demonstrava preocupação com uma medalhinha dourada, onde estava escrito o seu sobrenome, que ficou conhecido em todo o país após a barbárie cometida pela irmã.
A polícia não encontrou drogas com Andreas Richthofen e o jovem negou o uso no dia, porém, segundo relato dos PMs, o sinal de uso de entorpecentes pesados foi visível. Ele foi encontrado sozinho e em condições de higiene precárias.
Dependência química
A psiquiatra Maria Celia Vitor de Souza Brangioni, médica no Hospital Universitário de Brasília (HUB) e especialista em dependentes químicos, explica que a dependência química é a conjunção de uma série de fatores. Ela esclarece que, além do fator biológico, há o psicológico e o social. Indivíduos naturalmente ansiosos, depressivos ou que tenham passado por experiências traumáticas na infância, por exemplo, têm mais tendência a se encantarem por alternativas à realidade.
"Não existe rico ou pobre nessa questão. Se a pessoa já tem alguma doença mental ou pré-disposição para doenças mentais, a substancia química apenas potencializa um quadro de psicose", explica. "Por outro lado, mesmo que a pessoa não tenha predisposição genética ou psicológica para a dependência, mas é exposta a drogas e está em uma condição de vulnerabilidade social grande, existe uma chance maior de essa pessoa se tornar um dependente químico", pondera Maria Celia.
Segundo Maria Celia, existem vários níveis de problemas causados por drogas e cada substância prejudica o cérebro de uma forma, mais ou menos grave. "Além de prejuízos cognitivos, algumas substâncias causam também problemas físicos. O dependente não dorme, não se alimenta e tem problemas pulmonares frequentes. Depois há os riscos sociais, com a perda dos vínculos familiares, que vão ficando frágeis ou inexistentes", esclarece a médica, que há 27 anos trata usuários de drogas.
O peso Richthofen
Sem os pais e com a irmã presa e deserdada, Andreas passou a ser o único herdeiro do casal Manfred e Marisia Richthofen. Apenas em propriedades em São Paulo, o casal deixou cerca de R$ 8 milhões. Além disso, eles também tinham mais de R$ 3,1 milhões entre contas bancárias, dólares e direitos trabalhistas. Foi pela metade dos mais de R$ 11,1 milhões que o casal foi assassinado pela própria filha.
Há dois anos, Suzane afirmou que não via o irmão desde 2006, quando houve o julgamento. "Eu sei que meu irmão sofreu muito, mas como ele passou estes anos, eu não sei. Se eu sofri aqui dentro [do presídio], imagino ele lá fora. Quando ele diz o sobrenome qualquer um reconhece, e ele terá que carregar isto para sempre", disse ela na ocasião.
Descrito como um homem gentil e um bom aluno, Andreas cursou farmácia e bioquímica na Universidade de São Paulo (USP) e ingressou no doutorado em química na mesma universidade, em 2010. Sempre distante da imprensa, ele falou apenas uma vez sobre a tragédia familiar. Em 2015, ele quebrou o silêncio que mantinha desde o assassinato dos pais em uma carta aberta e em entrevista à Rádio Estadão, após as acusações de que seu tutor mantinha contas na Europa por conta de desvios ocorridos nas obras do trecho Oeste do Rodoanel.
Na época, com 27 anos, falou sobre o peso do sobrenome Richthofen e disse que se sentia "ferido" quando a imprensa falava do assassinato de seus pais. Apesar de não falar sobre a irmã, classificou o crime como "nojento". "Entendo sua indignação para com estes três assassinos seja imensa e muito da sociedade compartilha esse sentimento. E eu também. É nojento", afirmou Andreas, em um trecho da carta.