postado em 02/07/2017 14:56
Os policiais militares que atiraram em Leandro de Souza Santos, 18 anos, na Favela do Moinho, região central da capital paulista, na última terça-feira (27/6) estão afastados de suas funções e foram transferidos para serviço administrativo. A informação foi divulgada pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e confirmada pela Polícia Militar (PM). Os PMs estão sendo investigados pela Corregedoria da PM, que instaurou inquérito policial-militar na última sexta-feira (30/6), no qual quatro testemunhas já prestaram depoimento.O jovem foi morto durante ação da Rota ; batalhão de elite da PM de São Paulo ; por volta das 10h da manhã. Na ocasião, ele foi socorrido e levado para o Hospital Santa Casa, mas foi constatada a morte ainda na entrada do pronto-socorro.
A Secretaria de Segurança Pública do estado disse, em nota, que ;a fim de preservar os dois policiais militares envolvidos na ocorrência, bem como a lisura do processo investigativo, os mesmos foram transferidos temporariamente para o serviço administrativo na área central de São Paulo;.
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Testemunhas ouvidas no inquérito pela Corregedoria, já na sexta-feira, disseram que os policiais ficaram mais de uma hora com Leandro dentro da casa onde ele foi atingido por disparos de arma de fogo. De acordo com o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Infância e Juventude do Condepe, que acompanhou os depoimentos, ;existem muitos indícios de que o rapaz tenha sido torturado e executado.;
Nessa primeira etapa, foram ouvidas a dona da casa onde Leandro foi atingido, a mãe dele, além de um irmão e uma irmã do jovem. Os irmãos relataram que foram agredidos pelos policiais militares ao tentarem entrar na casa. Segundo o advogado, ambos mostraram marcas de escoriações.
Alves contou que ;os PMs não deixaram as quatro testemunhas entrarem na casa. Disseram que nada ia acontecer com Leandro, mas, quando chegou a maca, os familiares se desesperaram. Depois tiraram a maca com ele em cima, numa manta térmica fechada;. As testemunhas disseram ainda que o corpo do jovem ficou com vários hematomas e escoriações no rosto, joelho e pulsos, além dos dentes quebrados.
Preservação do local
Alves ressaltou ainda a resolução da Secretaria de Segurança Pública do estado (SSP) que trata da preservação do local do crime em caso de mortes envolvendo policiais, afirmando que ela não foi respeitada. ;O jovem pode ter morrido no local, na casa, segundo os relatos das testemunhas na Corregedoria, mas o corpo foi retirado para um suposto socorro à vítima;, disse.
Mesmo após a retirada do rapaz ;não houve preservação do local do crime e objetos possivelmente relacionados ao crime ficaram largados no local, tanto que cápsulas de disparos de arma de fogo e um martelo ensanguentado ficaram lá expostos.;
Os familiares da vítima entregaram, também à Corregedoria, vídeos gravados enquanto os policiais estavam dentro da casa com Leandro, nos quais é possível ouvir um som alto na casa, barulhos de helicóptero e ver alguns dos policiais que atuaram na ação, contou Alves, e disseram que Leandro não tinha arma. Segundo os relatos das quatro testemunhas, todos os policiais estavam sem tarjetas de identificação nas fardas.
Após pedido do Condepe, o procurador-geral de Justiça do estado, Gianpaolo Poggio Smanio, designou a promotora Soraia Bicudo, da 1; Vara do Juri, para acompanhar as investigações e o inquérito policial. Mais testemunhas devem ser ouvidas na próxima semana. ;A Corregedoria está empenhada em esclarecer os fatos;, disse Alves.
Procuradas pela Agência Brasil, a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP) não se posicionaram sobre as denúncias de tortura do jovem e de agressão de seus familiares.