Brasil

Cadastro rural não impede desmatamento na Amazônia, alerta estudo

Além de analisar as estatísticas, os autores também entrevistaram alguns fazendeiros nos dois Estados, que reforçaram essa percepção

Agência Estado
postado em 03/07/2017 16:56
Criado com o objetivo de ajudar a conter o desmatamento ilegal, o Cadastro Ambiental Rural - ferramenta estabelecida na reforma do Código Florestal, de 2012 - pode ainda não está conseguindo entregar o que prometeu. É o que sugere um estudo que avaliou o comportamento de mais de 49 mil propriedades no Mato Grosso e no Pará antes e depois de elas aderiram ao CAR.

A análise, feita com base nos dados de dois sistemas estaduais precursores do CAR federal - criados por MT e PA nos anos 2000 -, e com imagens de satélite, revelou que em um primeiro momento, logo após o registro, a maior parte das propriedades de fato não teve novos cortes.

Com o passar do tempo, porém, elas voltaram a registrar pequenos desmatamentos, com a confiança de que não haveria punição. Em alguns casos, as derrubadas de mata em fazendas com o CAR chegaram a ser maiores que em propriedades que ainda não haviam aderido ao programa.

De acordo com o trabalho, liderado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da Universidade Federal de Minas Gerais, o problema foi detectado em 10,9% dos imóveis no Mato Grosso e chegou a 48,5% no Pará.

"A expectativa era que, uma vez que entrou no CAR, o proprietário não desmataria mais, já que o sistema foi planejado para facilitar o monitoramento e trazer a possibilidade de envio de multas pelo correio. Mas como isso não ocorreu, o proprietário foi ficando à vontade", disse ao Estado o pesquisador Raoni Rajão, da UFMG.

Além de analisar as estatísticas, os autores também entrevistaram alguns fazendeiros nos dois Estados, que reforçaram essa percepção. "Uma fala curiosa que ouvimos é que se entrar no CAR e mudar o ritmo de desmatamento, cortar só 10 hectares, ninguém vai pegar. Na cabeça dele, desmatamento é coisa de 1000 ha", complementa Rajão.

No estudo, publicado na edição desta segunda-feira (3/7) da revista PNAS, os autores apontam que observações de satélite confirmam que a maior parte dos desmatamentos (63% no Pará e 51% no Mato Grosso) em áreas que tinham CAR eram menores que 10 ha.

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