postado em 16/08/2017 08:17
Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco descobriram substância que pode bloquear o vírus Zika. Mas ainda serão necessários anos de estudo antes que a 6-metilmercaptopurina ribosídica (6MMPr) vire um medicamento a ser produzido em larga escala.
Pela descoberta, a substância ;imita; uma parte do vírus, que é inserida no genoma do zika e para a reprodução. O sucesso obtido pelos pesquisadores foi de mais de 99%.
O estudo foi publicado na última sexta-feira (11/8) na revista International Jornal of Antimicrobial Agents, mas a instituição divulgou somente nessa terça-feira (15/8) a descoberta.
A substância, sintética, é do grupo das Tiopurinas, origem de medicamentos contra o câncer. Esse tipo específico, no entanto, nunca foi utilizado. Os pesquisadores da Fiocruz trabalhavam com a 6MMPr em um outro estudo, para combater um vírus de cachorro, a Cinomose canina. ;Nós identificamos que ela tem atividade contra a Cinomose. E por ser um vírus de RNA, assim como o Zika vírus, nós formulamos a hipótese que também funcionaria contra o zika;, conta o coordenador da pesquisa, Lindomar Pena.
Para levar o estudo à frente, a equipe utilizou material e recursos humanos de outras pesquisas financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), já que, segundo Pena, no período de um ano não surgiu nenhum edital para financiamento de investigações de substâncias contra o zika.
Os testes foram feitos em células epiteliais e neurais de macacos e de humanos. A cada mil vírus, 996 deles foram eliminados com a 6MMPr, o que dá mais de 99%. ;É algo impressionante. Em laboratório, a gente faz de tudo para ;provar; que a substância não funciona, os testes são muito rigorosos;, diz.
Foi descoberto também que quanto mais alta a dose, maior é a eficácia, e quanto mais cedo a substância começa a atuar, maior é o sucesso.
Para combater o zika, ela imita parte da estrutura do vírus para ;enganá-lo;. Segundo o coordenador da pesquisa, quando o vírus está replicando seu genoma, ele precisa de pequenos blocos estruturais. Ele deu o exemplo de uma parede formada por tijolos. Seria como se a 6MMPr imitasse um dos tijolos, para que quando o zika ;construísse; a parede, parasse de se replicar.
Além disso, a substância se mostrou segura para uso em células neurais. ;Vai ter poucos efeitos colaterais no sistema nervoso, porque se ela fosse mais tóxica seria um alerta negativo. Ela mostra justamente o contrário, tem poucos efeitos tóxicos, comparados com células epiteliais. Em células epiteliais é menos grave;, afirmou Pena.
Caminho longo
Apesar da conquista, ainda há muitas etapas ; e anos ; até que a substância possa ser produzida em larga em escala como um medicamento. De acordo com Lindomar Pena, o tempo médio até que isso ocorra é de 10 anos. ;Mas, por causa da importância e da gravidade do zika, pode ser que esse período possa ser reduzido pela metade;, estima.
O próximo passo é o teste em camundongos. São necessárias ainda outras duas espécies de animais até chegar ao teste em humanos. Para saber se é possível utilizar um possível medicamento em grávidas para que o bebê fique protegido, ainda será necessário fazer o teste em fêmeas prenhas. ;Se for prejudicial, podemos melhorar a substância, fazendo modificações químicas. Já temos parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco para isso;.