postado em 23/08/2017 16:54
Apesar de mantida a tendência de redução da vulnerabilidade social no Brasil, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam uma desaceleração nessa queda e um aumento da vulnerabilidade social no país, no último ano analisado.
Os dados são do Atlas da Vulnerabilidade Social, divulgados hoje (23/8), em Brasília. Segundo o Ipea, de 2011 a 2015, o Brasil manteve a tendência de redução da vulnerabilidade social, mas em velocidade menor à observada no período entre 2000 e 2010.
Ao analisar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2011 e 2015, a taxa média anual de redução foi de 1,7%, enquanto que, entre 2000 e 2010, com dados do Censo Demográfico do IBGE, a taxa era de 2,7% ao ano.
Além disso, a partir de 2014, o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) não apresentou redução de valores, mas, sim, um aumento de 2%, saindo de 0,243 em 2014 para 0,248 em 2015. ;Este pequeno aumento de 0,005 pode significar um ponto de inflexão na curva da redução da vulnerabilidade social;, diz o estudo.
Segundo o técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e coordenador do atlas, Marco Aurélio Costa, é o primeiro ano em que há um aumento da vulnerabilidade social no país.
Quanto maior o índice, que varia de 0 a 1, mais vulnerável a população está. A vulnerabilidade social à que ele se refere indica a ausência ou insuficiência de recursos ou estruturas (como fluxo de renda, condições adequadas de moradia e acesso a serviços de educação) que deveriam estar à disposição de todo cidadão, por força da ação do Estado. Ele é composto por 16 indicadores organizados em três dimensões: renda e trabalho, capital humano e infraestrutura urbana.
Renda e Trabalho
A dimensão que mais contribuiu para a inflexão na vulnerabilidade social é a de renda e trabalho, composta por diversos indicadores sobre o fluxo de renda familiar insuficiente. Segundo o Ipea, enquanto na década de 2000 a 2010 houve uma redução do IVS renda e trabalho da ordem de 34%, com taxa média anual de 3,4%, no período de 2011 a 2015 ele caiu 3,3%, com taxa anual de apenas 0,8%.
[SAIBAMAIS];A dimensão renda e trabalho está bastante fragilizada. No período do censo, entre 2000 e 2010, o Brasil apresentou uma queda importante na vulnerabilidade social, ancorada principalmente na dimensão renda e trabalho. As pessoas estavam com renda, muita gente tinha saído da faixa de vulnerabilidade social. Nos dados da Pnad, especialmente para 2015, houve uma reversão do quadro;, disse Costa.
De acordo com o técnico, em algumas regiões metropolitanas como São Paulo, houve um aumento em mais de 20% na vulnerabilidade social na dimensão renda e trabalho. ;Se você vai ao centro de São Paulo você vê o índice.
A composição da dimensão Renda e Trabalho é levado em conta, por exemplo, trabalho infantil, dependência da renda de idosos, trabalho informal e desemprego. ;O dinamismo da economia afeta muito essa dimensão. A chance de ter impactos, principalmente em situação de crise, é muito grande;, afirmou o técnico do Ipea.
Políticas públicas
A divulgação do Índice de Vulnerabilidade Social serve para orientar gestores no desenvolvimento de políticas públicas adequadas à realidade de cada localidade. Há dados por macrorregiões, unidades da federação, regiões metropolitanas, municípios e até unidades menores.
De acordo com Costa, os avanços na dimensão Infraestrutura Urbana na Região Norte, por exemplo, permitiram que a vulnerabilidade social caísse na região, como um todo. Entre 2011 e 2015, foi a região que registrou a maior queda na vulnerabilidade social, com 14%, enquanto a redução foi menos relevante foi no Sul (2%). ;Entendendo o que está por trás dos índices, isso tem um efeito demonstrativo didático para todas as regiões [no desenvolvimento de políticas públicas];, disse.
Diferença do homem-branco-urbano para a mulher-negra-rural
Além dos dados de 2011 a 2015, com base em informações da Pnad, a plataforma do Atlas da Vulnerabilidade Social traz a desagregação das informações por sexo, cor e situação de domicílio para o período e também para 2000 e 2010, com base no censo demográfico.
;Apesar dos avanços registrados, resiste a diferença entre homens e mulheres, entre negros e brancos e entre a população urbana e rural. E a diferença é mais dramática do homem-branco-urbano para a mulher-negra-rural. É como se fossem duas populações de países completamente diferentes, mas não podemos permitir que a gente tenha um país com níveis de desigualdades sócio-espaciais tão grandes;, disse Marco Aurélio Costa.
No caso das mulheres negras, esse grupo apresentou, em 2015, alta vulnerabilidade social na dimensão capital humano ; que envolve condições de saúde e acesso à educação. Nessas mesmas condições, as mulheres brancas estavam na faixa de média vulnerabilidade.
A pesquisadora do Ipea, Bárbara Marguti, explica que a dimensão Capital Humano conta uma história de vida, porque tem indicadores como mortalidade infantil, escolaridade, indicador sobre gravidez na adolescência e mulheres chefes de família sem o ensino fundamental e com filhos pequenos.
;Os resultados não são só sobre 2015, são sobre os próximos anos, porque o índice está falando da mãe que está criando as crianças que estão na escola ou não;, disse. ;O passivo da vulnerabilidade nessa dimensão pode indicar um futuro. Como lidamos com as três dimensões do IVS hoje, vai dizer como a população estará nos próximos ano;.