Jacqueline Saraiva
postado em 29/08/2017 13:20
O esquema de tráfico internacional de drogas desarticulado nesta terça-feira (29/8) pela Operação Coroa deve ter rendido aproximadamente R$ 500 mil a cada carga de cocaína comercializada no Brasil, segundo estimativa da Polícia Federal (PF). O esquema contava com a ajuda de um narcotraficante brasileiro, Jarvis Chimenes Pavão, preso desde 2009 no Paraguai. No total, a PF cumpre hoje sete mandados de prisão preventiva e nove de busca e apreensão nas cidades de Caxias do Sul (RS) e Ponta Porã (MS), e em Assunção, no Paraguai.
Três pessoas já foram presas em flagrante durante as investigações da Operação Coroa. Também foram apreendidos dois caminhões e um automóvel usados para transportar a droga. Seis investigados já tiveram suas contas bancárias bloqueadas. O narcotraficante Jarvis Pavão, que é considerado sucessor do traficante carioca Fernandinho Beira-Mar, responde a processos decorrentes de quatro operações da PF: Matriz, Panóptico, Suçuarana e Argus e em três processos é pedida sua extradição.
[SAIBAMAIS]Além de ter sido condenado por tráfico de drogas no Paraguai, ele também responde pelo mesmo crime no Brasil, com uma pena de 17 anos de prisão. Natural de Ponta Porã, uma das principais rotas de tráfico de drogas para Santa Catarina, ele é apontado pela Justiça brasileira como representante, na fronteira, de uma quadrilha paulista que atua dentro e fora dos presídios.
Na ação de hoje, os agentes percorreram endereços de suspeitos de participarem do esquema. Do total de ordens de prisão preventiva, uma foi cumprida no Paraguai, duas em Caxias do Sul (RS) e quatro em Ponta Porã (MS). Dos 9 mandados de busca e apreensão, 4 foram cumpridos em Caxias do Sul (RS) e cinco em Ponta Porã (MS).
Durante as buscas em uma das residências, os agentes encontraram até uma coroa, que , segundo a PF, é de um dos investigados que tem admiração pelo objeto, expressada também por tatuagens e imagens. Daí veio o nome da operação. Os investigadores dizem que os líderes do grupo tinham uma vida de "ostentação". Veja as imagens:
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Fronteira
Segundo a Polícia Federal, a droga entrava em território brasileiro por Ponta Porã, município do Mato Grosso do Sul que faz fronteira com o Paraguai. De lá, os traficantes levavam os entorpecentes para a Serra Gaúcha, onde eram comercializados. Desde março, quando a PF iniciou a investigação, mais de 4,6 toneladas de cocaína e maconha foram apreendidas nas cidades de Veranópolis (RS), Maringá (PR) e Campo Grande (MS).
Além de reprimir o tráfico de drogas, a Operação Coroa busca a diminuição da violência na fronteira Brasil-Paraguai, resultante da disputa entre facções pelo controle do tráfico de drogas na região.
Disputa entre facções
Para a polícia, facções brasileiras constantemente cooptam traficantes no Paraguai e os conflitos por poder no narcotráfico são constantes. Em 27 de julho, um vídeo divulgado em redes sociais mostrava dois supostos integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) executando dois rivais, na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil. Um dos executores falava português e mandava um recado para as facções rivais Comando Vermelho (CV), Família do Norte (FDN) e Primeiro Grupo Catarinense (PGC). A cidade paraguaia é separada da brasileira Ponta Porã (MS) por uma avenida.: "Se vier para a fronteira, o bicho vai pegar. Aqui quem manda é o PCC".
Os dois corpos foram encontrados carbonizados, na manhã seguinte, em Capitan Bado, reduto do tráfico no Paraguai. O PCC passou a controlar o tráfico de drogas e armas na fronteira do Paraguai com o Brasil desde a execução do megatraficante Jorge Rafaat Toumani, conhecido como o "rei da fronteira", em junho de 2016. A morte de Rafaat foi atribuída a Jarvis Pavão, numa ação estratégica que teria sido apoiada, na época, tanto pelo PCC, quanto pelo CV.