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'Maior medo era que atirassem nele', diz tia de rapaz que fez avó de refém

O rapaz, que fez a avó de refém por cerca de 8 horas, é portador de doença mental e foi levado ao hospital para receber atendimento psicológico

Agência Estado
postado em 29/08/2017 15:31
Foi de medo e profunda apreensão a madrugada de uma família do bairro Vila Rio de Janeiro, em Guarulhos, na Grande São Paulo Entre as 20 horas de segunda-feira (28/8) e quase 4 horas do dia seguinte, a avó da família, de 68 anos, teve uma faca em seu pescoço disposta pelo próprio neto, um rapaz de 28 anos.
Entre os familiares, a maior preocupação era com a vida do rapaz, que é portador de doença mental. "Ele dizia que não aguentava mais viver", relata uma das tias do rapaz, a auxiliar de enfermagem Sandra Francisco, de 43 anos. "Ele não faria nada com a minha mãe, não teve briga, nem nada. O nosso maior medo era que atirassem nele", o que não ocorreu.

Segundo a tia, a idosa dormiu durante grande parte da manhã desta terça-feira, devido ao desgaste da situação. "O coitadinho não tem culpa", ressalta Sandra. Outra tia do garoto, a manicure Roseli Francisco, de 45 anos, declarou diversas vezes à reportagem que o rapaz "não cometeu crime" e que a maior preocupação da família é conseguir tratamento adequado para ele, que esteve internado durante todo o mês de junho.

[SAIBAMAIS]A idosa mora há cerca de três anos no local em que foi feita de refém, um imóvel alugado em que vivia juntamente com o marido, uma das três filhas e uma neta. Já o rapaz morava a poucas quadras dali, tendo ido a pé até a casa da avó.

Segundo a família, o rapaz apontou a faca para a idosa assim que chegou no portão de entrada. Ao entrar no imóvel, se trancou com a avó, enquanto pedia para que sua tia e prima chamassem a polícia. Nesse momento, Sandra obedeceu ao pedido, fazendo o telefonema e, depois, junto da filha, saiu da casa, ficando em frente durante quase toda a madrugada.

Depois de negociações com o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Polícia Militar, o rapaz foi atingido por duas balas de borracha, uma no peito e outra nas costas. De lá, foi encaminhado para atendimento na UPA Jardim Paulista, em Guarulhos, e, levado para o Hospital Municipal de Guarulhos, onde permanecia até o início da tarde desta terça-feira para avaliação psiquiátrica.

Histórico


"Minha irmã está nesta vida há quase 10 anos, sempre atrás de internação. Espero que essa situação ajude ele a conseguir tratamento. Infelizmente, teve de chegar nisso para fazerem alguma coisa", diz Sandra. Segundo ela, médicos não chegaram a um diagnóstico conclusivo sobre a situação do rapaz, que já havia cometido quatro tentativas de homicídio.

A idosa havia retornado para casa quatro dias antes do incidente, após ter acompanhado o velório e o sepultamento da própria mãe, que tinha 87 anos e vivia no Paraná. "Ela cuidou da minha vó, estava muito abalada ainda", relata Sandra.

De acordo com a auxiliar de enfermagem, o rapaz apresentava sinais de doença mental desde os 19 anos, período em que chegou a cursar Jornalismo em São Paulo. "Ele largou de um dia para o outro, depois disso, a situação começou a piorar", comenta.

Entre a família, são frequentes os elogios de que o rapaz era "muito inteligente" e "muito bonzinho". "Ele era uma criança mesmo, tinha mentalidade de menino. Se falasse uma coisa para ele, ele ficava ansioso, não conseguia dormir", comenta uma das tias.

Vizinha da idosa, a aposentada Rosa Amélia, de 62 anos, disse ter acompanhado tudo de sua janela. "Como avó, só consegui descansar depois que vi ele saindo. Estava calmo, com a cabeça baixa. A avó gritava muito", relata.

"Foi muito triste. Eu como avó, só pensava que tinham que tirar ele de qualquer maneira, sem machucar ninguém", comenta Rosa. Segundo ela, o marido da idosa estava "em choque". "Não saía da frente da casa, ficava parado, em pé o tempo inteiro", diz.

Moradora do bairro desde 1977, ela comenta que a região tem uma rotina tranquila, com exceção desta semana, em que, na madrugada de domingo para segunda-feira, ocorreu um acidente de trânsito grave, entre uma motocicleta e um carro na mesma esquina.

Já o mecânico Ilton Francisco dos Santos, de 47 anos, comenta que sempre avistava a idosa passar pela rua, andando devagar com uma das filhas. Ele relata ter assistido tudo da própria janela e também pela televisão. "Só ouvi três gritos muito altos, de quando ela saiu. Estava apavorada."

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