postado em 03/09/2017 16:38
A área em torno do Monumento aos Mortos na 2; Guerra Mundial, no Parque do Flamengo, foi o cenário escolhido neste domingo (3/9) para mais uma manifestação com o objetivo de chamar a atenção de toda a sociedade para o elevado número de mortes de agentes de segurança no estado do Rio de Janeiro.
O ato, que reuniu cerca de 300 pessoas, entre policiais da ativa e da reserva, familiares e amigos das vítimas, ocorreu no mesmo dia em que foi enterrado o 101; policial assassinado desde o início do ano no Rio, o sargento da Polícia Militar (PM) Lucio Ferreira de Santana, morto na última sexta-feira (1;).
O sargento, que foi enterrado no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona norte do Rio, havia reagido a uma tentativa de assalto a uma loja comercial no centro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Com o lema "Mexeu com um, mexeu com todos", a manifestação não teve caráter reivindicatório, embora cada grupo participante tenha chamado a atenção para suas lutas específicas, como a falta de infraestrutura e de armamento de qualidade e a necessidade de atendimento psicológico adequado aos policiais que foram baleados e sobreviveram.
;O ato, que no início seria apenas um culto ecumênico, é uma homenagem aos nossos companheiros mortos em combate. Hoje, quase todo dia está morrendo um;, explicou o subtenente Ricardo Garcia, da reserva remunerada da PM, organizador da manifestação.
Segundo Garcia, o lema é um apelo para unir a polícia e também para conscientizar a sociedade com relação à situação vivida pelos policiais. ;Nós devemos ter a humildade de dizer à sociedade que a luta está difícil. Se a sociedade não se unir a nós, a batalha pode ser perdida. Estamos plantando hoje essa semente de união, não por nós, mas por nossos filhos e netos;, disse.
Colocados junto a um dos postes de iluminação do parque, sete bonecos vestiam fardas de policiais militares mortos este ano. Perto dali, o grupo formado por mulheres e parentes das vítimas ostentavam a faixa com os dizeres "Esposas e familiares ; somos todas sangue azul", uma alusão à cor da farda da Polícia Militar fluminense.
;Nossos heróis estão morrendo. Isto tem que ter um basta;, desabafou Sonia Lopes, mãe do PM Silvio César Lopes da Silva, morto no último dia 9 de agosto, aos 39 anos de idade e 12 de corporação. Ele estava fora de serviço e foi baleado ao reagir a um assalto, no dia do aniversário da esposa, deixando três filhos.
Foi presenciando casos como esse que Rogéria Quaresma, que é casada com um policial que está na ativa há 30 anos, se engajou no movimento de mulheres e familiares. ;Eu estou nessa luta para que ele não seja a próxima vítima. O policial vê seu amigo sendo ferido ou morto e sabe que pode ser o próximo. Então, nós pedimos que seja dado apoio psicológico a esse policial e também às viúvas, esposas e familiares desses que estão sendo abatidos. Que deem mais atenção a essa família que perde seu guerreiro;, enfatizou.
Rogéria destacou o constante risco que os policiais enfrentam por residirem, em sua maioria, nas áreas de maior incidência de criminalidade. ;Nós não temos condições de sair da Baixada ou de uma outra área de risco para morar em um lugar melhor. Isto torna o policial vulnerável a ser morto, mesmo quando não está em serviço. Meu marido sai de casa às 4 horas da manhã. Ele mora muito distante do trabalho;, contou.
Ela também cobrou o apoio aos policiais que, fora do serviço, atiram para se defender dos criminosos. ;Nossos policiais têm medo de reagir a um assalto, até pelo que eles podem ser julgados mais à frente. Por isso, nós pedimos também o apoio a esses policiais que reagem por legítima defesa, que o Judiciário venha a apoiar e não condenar eles. Várias vezes muitos não reagem e acabam sendo mortos;, disse.
Do alto de um carro de som, a manifestação foi encerrada com o culto ecumênico, que teve à frente o capelão da Polícia Militar Enoque Rafael. ;Não vamos nos calar, sempre que houver um policial morto nós estaremos ao seu lado;, disse o capelão, antes de convocar todos os participantes a rezarem o Pai Nosso.