Brasil

No mês da Consciência Negra, ONU lança ação contra morte de jovens negros

A campanha "Vidas Negras" tem como principal objetivo conscientizar a sociedade e o Estado sobre as consequências da discriminação racial

Gabriela Vinhal
postado em 07/11/2017 15:51
Para a ONU, o racismo é uma das principais causas históricas desta situação de violência e letalidade a que a população negra ainda está submetida
No mês em que se celebra o Dia Nacional da Consciência Negra, marcado pela morte de Zumbi dos Palmares, a Organização das Nações Unidas (ONU) lança uma campanha contra a violência de jovens negros no Brasil. A ação "Vidas Negras" escancara os dados sobre extermínio da população negra no país: sete em cada 10 pessoas assassinadas são negras; na faixa etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas perdidas para a violência a cada duas horas.
A campanha, lançada nesta terça-feira (7/11), objetiva sensibilizar a sociedade, os gestores públicos e privados, e os movimentos sociais sobre a importância de políticas de prevenção e enfrentamento da discriminação racial. De 2005 a 2015, enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes teve queda de 12% entre os não negros, para os negros houve aumento de 18%. As informações são do Atlas da Violência 2017.

Para a ONU, o racismo é uma das principais causas históricas desta situação de violência e letalidade a que a população negra ainda está submetida. Segundo a oficial de programa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e doutora em Ciência Política Ana Cláudia Pereira, os números apenas refletem o que tem sido construído ao longo da sociedade.

"Embora a escravidão tenha acabado há algum tempo, as opressões têm sido reinventadas. Não é necessária a existência da escravidão para a desigualdade entre as raças continuar existindo. O pensamento que coloca as pessoas negras abaixo das brancas ainda perdura e é repassado através de gerações", explica.

Prejuízo para todos


Atualmente, um homem negro tem até 12 vezes mais chance de ser vítima de homicídio no Brasil que um não negro, segundo o Mapa da Violência. Além disso, uma pesquisa recente realizada pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e pelo Senado Federal mostra que 56% da população brasileira concorda com a afirmação de que "a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco."

Segundo Ana Cláudia, o alto índice de morte da população negra deveria ser uma preocupação também para as pessoas brancas, não apenas por ser um grau de desumanização, mas porque é a mesma sociedade violenta para todos. "A perda, sobretudo dos jovens negros, seria mais um investimento social perdido, como adolescentes mortos que ainda estão estudando ou trabalhando, e que poderiam ter uma vida pela frente. Essa morte pode e deve ser evitada. São necessárias políticas públicas e ações afirmativas", conclui.

Vidas Negras

As peças da campanha abordam diferentes facetas da questão, que vão da discriminação como obstáculo à cidadania plena; passam pelo tratamento desigual de pessoas negras em espaços públicos; e pelo vazio deixado pelos jovens assassinados nas famílias e comunidades; chegando até o problema da filtragem racial (escolha de suspeitos pela polícia, com base exclusivamente na cor da pele). Participam dos vídeos e demais materiais Érico Brás, Taís Araujo, Kenia Maria, Elisa Lucinda e o Dream Team do Passinho.

"O Brasil é um dos 193 países comprometidos com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Um dos principais compromissos dessa nova agenda é não deixar ninguém para trás em relação às metas de desenvolvimento sustentável, incluindo jovens negros. Com a campanha Vidas Negras, a ONU convida brasileiras e brasileiros a se engajarem e promoverem ações que garantam o futuro de jovens negros", diz o coordenador residente da ONU, Niky Fabiancic.

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