postado em 07/11/2017 15:59
O estado de conservação das rodovias brasileiras piorou em 2017 se comparado com o ano anterior. É o que mostra a pesquisa sobre a malha rodoviária nacional que a Confederação Nacional do Transporte (CNT) realiza anualmente, com apoio do Serviço Social do Transporte (Sest) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).
Divulgada hoje (7/11), a 21; edição do levantamento aponta que o país precisaria investir quase R$ 294 bilhões para ter uma infraestrutura rodoviária adequada à demanda nacional. Além da queda na qualidade do estado geral das rodovias pesquisadas e da falta de investimentos, a pesquisa identificou 363 trechos de rodovias com pontos que, segundo a CNT, representam grave riscos à segurança dos usuários e queda da eficiência do transporte.
Ao longo de 30 dias, pesquisadores percorreram 105,8 mil quilômetros ; 2,5 mil quilômetros a mais que em 2016. Toda a extensão pavimentada das rodovias federais e as principais rodovias estaduais do país foram avaliadas.
Segundo o diretor executivo da CNT, Bruno Batista, a queda na qualidade do estado geral das rodovias está demonstrada no fato de, este ano, os pesquisadores terem classificado 61,8% da extensão pesquisada como regular, ruim ou péssima e apenas 38,2% como boas ou ótimas. Em 2016, estes índices eram de, respectivamente, 58,2% e 41,8%.
O aspecto em que o índice mais se deteriorou foi o relativo à sinalização. O percentual da extensão de rodovias com sinalização considerada como ótima ou boa caiu para 40,8%, frente aos 48,3% alcançados no ano passado. Dessa forma, aumentou para 59,2% o percentual de sinalização regular, ruim ou péssima.
Outro quesito mal avaliado diz respeito à durabilidade do pavimento das rodovias brasileiras. Segundo a CNT, o país ainda emprega uma metodologia ultrapassada na execução das obras. Isso, de acordo com a entidade, é ainda mais comprometido por falhas no gerenciamento, fiscalização e manutenção das rodovias.
Acidentes
As falhas concorrem para o surgimento de ;situações atípicas;, que é como a pesquisa classifica ameaças à segurança dos usuários das estradas federais ou administradas por empresas concessionárias. São quedas de barreiras, pontes caídas, trechos erodidos e buracos que comprometem faixas de rodagem, ;levando a um aumento dos custos operacionais da movimentação de cargas e de passageiros resultante do prolongamento do tempo de viagem e do maior consumo de combustível;, mostra estudo.
A pesquisa indica que, em 2016, o número de acidentes em rodovias federais caiu pelo segundo ano consecutivo. Para Bruno Batista, no entanto, essa queda se deve à mudança de metodologia na forma como a Polícia Rodoviária Federal (PRF) computa as ocorrências.
;A partir de 20015, a Polícia Rodoviária alterou a forma de registro dos acidentes. As pessoas que se envolvem em acidentes sem vítimas passaram a ter que registrá-los. Acreditamos que isso ajude a explicar essa queda grande dos números, já que não houve nenhuma razão técnica, nenhum incremento em medidas de segurança, que expliquem esse fato;, comentou Batista ao comparar os 96,3 mil acidentes e 6.398 mil mortes do ano passado com os cerca de 121 mil acidentes e 6.837 mil óbitos divulgados em 2015. Em 2014, foram registrados 169 mil acidentes.
A pesquisa aponta que ao passo em que foram investidos R$ 8,61 bilhões em melhorias e conservação das rodovias federais, só os acidentes registrados no ano passado custaram R$ 10,88 bilhões. Valores que se somam às perdas com o aumento do custo operacional para as transportadoras de cargas e de passageiros. A estimativa é que, apenas em 2017, 832,3 milhões de litros de diesel tenham sido desperdiçados em função da má qualidade das rodovias, o que custou R$ 2,54 bilhões às transportadoras.
;A má qualidade das rodovias brasileiras oneram o transporte rodoviário em 27%, na média. Média, pois há rodoviais da Região Norte que chegam a elevar em até 33% o custo da operação;, afirmou o presidente da seção de Transporte Rodoviário de Cargas, Flávio Benatti.
;Isso demonstra o chamado Custo Brasil e a realidade do nosso país. Não teremos crescimento adequado se não olharmos para a questão da infraestrutura de transporte como um todo. E o [modal] rodoviário, que responde por 60% do volume de carga transportada [e 95% do de passageiros] precisa ser visto pelo governo com outros olhos;, acrescentou Benatti, destacando que, historicamente, o governo federal deixa de executar cerca de 30% do orçamento aprovado para a infraestrutura rodoviária. ;São verbas aprovadas que, por falta de gestão, não foram gastas. É uma situação muito grave,; disse.
Soluções
Para a CNT, é urgente a implementação, pelo governo federal, de um plano para reparar os principais problemas identificados na pesquisa, dentre os quais, a reconstrução de 1.136 quilômetros de rodovias onde a superfície do pavimento está destruída e a restauração de 27.681 quilômetros de malha onde foram identificadas trincas, remendos, afundamentos, ondulações ou buracos; além da construção de acostamentos em 47.270 quilômetros e a pintura de faixas centrais e laterais onde estas não existem.
Além disso, a confederação defende o fortalecimento dos órgãos públicos que atuam no setor, como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a PRF; a modernização dos sistemas de fiscalização e controle de obras públicas de infraestrutura rodoviária e a reformulação do modelo brasileiro de concessões rodoviárias como forma de estimular os investimentos privados.
;O quadro se agrava a cada dia, pois os investimentos feitos pelo governo são poucos. E as concessões feitas há três, quatro anos, foram feitas apenas para mexer com valores de tarifas, e não com um plano de investimentos;, acrescentou Benatti.