Fernanda Soraggi*
postado em 29/01/2018 20:27
A luta pelo respeito à identidade de gênero no Brasil é questão de vida ou morte. Nos últimos oito anos, o país matou, ao menos, 868 travestis e transexuais, de acordo com a ONG Transgender Europe. Preconceito diário, ofensas e o constante medo de sair na rua marcam o dia a dia dessa parcela da população que batalha para ser mais incluída na sociedade. A responsabilidade dessas vidas é tanto do estado quanto da sociedade, que tem usado meios de comunicação de massa, como telenovelas, peças de teatro e longas metragens para representar, dialogar e desmitificar preconceitos contra esse público.
Em 2017, a autora Glória Perez abordou a história de um homem trans no fohetim das 21h, A Força do Querer. A trama colocou na mesa de jantar de famílias brasileiras uma questão jogada para baixo do tapete por muito tempo. Jude Rabelo, transgênero não-binário, 20 anos, é estudante de artes cênicas e acredita que a mídia tem o papel de conscientizar indivíduos que não têm muito conhecimento de como é a vida de pessoas trans. "No meu caso, se eu tivesse visto algum tipo de representação, eu teria me entendido muito antes. Foram vários anos que eu me senti perdido, inconformado com os tratamentos que eu tinha ou presunções que os outros faziam de mim pela minha aparência", aponta Jude.
A atriz trans Ariel Pimenta, 22, tomou coragem para contar aos familiares sobre sua transexualidade depois de diversas reportagens e séries sobre o movimento trans. "Em 2016 teve um ;boom; sobre a questão trans, por causa da Caitlyn Jenner e da atriz transexual Laverne Cox, de Orange Is The New Black. Isso foi meu gatilho para contar para minha mãe;, compartilha a atriz.
Os estereótipos
Apesar de os meios de comunicação de massa estarem mais antenados na ;causa trans;, ainda há um reforço de estereótipo dentro das histórias. "Você não vai ver em uma novela das 21h, uma mulher trans fazendo papel da mocinha ou do casal romântico. Você sempre vai ver as mulheres trans fazendo os mesmos papéis, de trans ou de prostituta", diz Ariel.
A professora Liliane Macedo, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), ressalta a importância dos meios de comunicação. Para ela, a mídia é extremamente útil tanto para representação de determinada categoria social como para desconstruir um estereótipo social. "Se os meios de comunicação têm um papel pedagógico, ao nos apresentar determinadas situações ou grupos, eles podem ajudar as pessoas a entenderem melhor determinadas situações ou reforçar ainda mais essa situação de opressão", explica Liliane.
"É importante lembrar que uma pessoa trans na mídia (ou uma personagem trans) não vai representar nem contemplar todos os transgêneros que existem. Porque há pessoas trans inseridas nos mais diversos meios. E é preciso que as pessoas entendam que não existe um padrão de coisas que acontecem com pessoas trans", ressalta Jude.
* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli