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Polícia Civil de Minas aciona Interpol para investigar venda de bebês

Investigação começou quando a polícia impediu a venda de um recém-nascido em Contagem. Pessoas de outros países foram identificadas em redes sociais usadas por casais ligados à compra

A Polícia Civil de Minas Gerais acionou a Interpol para investigar possíveis envolvidos na compra e venda de crianças. O caso veio à tona no início de março em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando dois casais de Rio das Ostras e São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e a mãe de um recém-nascido foram detidos suspeitos de negociar o bebê pela internet. No entanto, a participação deles em um esquema internacional de tráfico de pessoas. A Polícia Civil deu mais detalhes do caso nesta quarta-feira.

;As investigações partiram de uma mãe que tinha acabado de dar a luz na maternidade de Contagem e que tinha prometido a entrega do filho dela a um casal do Rio de Janeiro. No momento da entrega, ela se arrependeu chamou a polícia, chamou a assistência social do hospital e nós prendemos essas pessoas em flagrante. Prendemos inclusive a mãe, mas ela foi liberada sob fiança;, explicou o delegado Regional de Contagem, Christiano Xavier Ferreira. A mãe não revelou a identidade do pai do bebê.

As quatro pessoas estavam na maternidade prontas para pegar a criança, que ficaria com o casal de Rio das Ostras. O contato deles foi feito diretamente com a mãe, por meio das redes sociais. ;Eles já vieram com a forma como iam falsificar. Confessaram que chegariam no cartório, falariam que a moça teve o filho de madrugada em casa, não deu tempo de ir para o hospital, levariam o outro casal para servir de testemunha e sairiam daqui com a criança registrada;, disse o policial.

Durante as investigações, a Polícia Civil realizou a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos e identificou que eles faziam parte de vários grupos nas redes sociais em que criança eram negociadas por até R$ 30 mil. ;Então, nós passamos a investigar o possível envolvimento com tráfico de crianças, inclusive internacional, porque em alguns grupos desses existiam pessoas de nacionalidade da Itália, dos Estados Unidos;, disse.

De posse de mandados de busca e apreensão e com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do Rio de Janeiro, os policiais mineiros fizeram buscas nas residências dos casais no estado vizinho. ;Lá identificamos, de forma bastante categórica a partir de entrevistas com vizinhos, familiares, com a presença in loco, verificação dos locais, análise de documentos, inclusive computadores nós apreendemos, que esses dois casais não fazem parte da organização criminosa. São apenas dois casais que tinham a fixação em ter crianças para eles, de cuidar de crianças;, detalhou o delegado Christiano Xavier.

Segundo ele, a mulher de Rio das Ostras que ficaria com o bebê de Contagem perdeu um bebê há aproximadamente oito meses e estava com a fixação de ter uma criança. ;Ela tinha uma carta de habilitação do Fórum, uma sentença do juiz da comarca de Rio das Ostras possibilitando a ter uma criança, mas aguardando na fila (de adoção). Mas, eles preferiram o caminho da facilidade e tentaram adotar essa criança de forma ilegal aqui em Contagem. Lá nos identificamos até um boneco, um recém-nascido, de borracha. Ela andava com o boneco, colocava ele para ver televisão, tinha até nome;, comentou o responsável pelas investigações. ;E o outro casal da mesma sorte. Era uma fixação em ter crianças que os levou a esse ato de desespero de tentar a todo custo;, afirmou.

INTERPOL O delegado enfatizou que os dois casais não fazem parte de algum esquema e nem são administradores de nenhum grupo, mas que apenas queriam adotar uma criança. ;Mas, logicamente, nessa busca incessante deles acabaram por entrar em grupos em redes em que existiam organizações destinadas a esse fim e estão sendo identificadas;, disse Christiano Xavier.

O delegado informou que a Interpol vai dar sequência à investigação já que telefones de outros países foram encontrados nos grupos das redes sociais. ;Já estamos acionando a Interpol para que acione cada pátria que esteja envolvida nisso para saber quem identificar, quem são as pessoas que utilizam desses números cadastrados nesses países;, disse. As polícias dos estados de estados como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo também vão apurar participações de pessoas na compra e venda de crianças.

Nesta semana, a polícia mineira conclui as investigações sobre o caso de Contagem. Conforme Christiano Xavier, todos os envolvidos responderão pelo artigo 238 do Estatuto da Criança e do Adolescente (;Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa;), com pena de 1 a 4 anos de prisão.