Jornal Correio Braziliense

Brasil

Estudantes da USP mapeavam calouros por ideologia para aliciá-los

Alunos do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito, listam calouros por interesses políticos, religião e gostos musicais para identificar quais estão alinhados com os ideais do grupo


Integrantes do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), fizeram uma lista dos calouros da instituição, separando-os por seus interesses políticos, gostos musicais e até religião. Entre as características apontadas estavam ;velhão;, ;progressista;, ;judeu;, ;crente;, ;bolsominion; (apoiador do candidato Jair Bolsonaro), ;maconheiro de esquerda;, ;ideologia desconhecida, judia;, ;liberal de merda; e até ;não tem Facebook, maluca total;.

A lista, feita por integrantes do Coletivo Contraponto, com membros ligados à juventude do Partido dos Trabalhadores (PT), traz o nome do estudante, uma indicação sobre sua origem (de qual cidade veio e onde estudou), um ;mapa de likes; (analisando quais páginas o estudante curte no Facebook para tentar identificar a orientação política), um link para a página pessoal do calouro na rede social e também o ;responsável; no centro acadêmico em fazer o contato com o calouro para tentar atraí-lo para o grupo.

O documento interno, uma planilha no Google, vazou e causou repúdio dentro da faculdade. Os dados, obtidos a partir das ;curtidas; que cada estudante tem em seu Facebook, seriam usados para mapear novos alunos com interesses políticos semelhantes aos do grupo que hoje ocupa o Centro Acadêmico e, assim, trazê-los para a organização.

Quando a lista vazou em um grupo dos estudantes, diversos alunos manifestaram repúdio nas redes sociais. ;Há evidentemente uma manifestação de preconceito e de abuso de poder. Estão usando uma instituição que é pública, dos alunos, para atingir fins políticos particulares;, disse, em entrevista ao O Estado de S. Paulo, um ex-presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, o advogado Renato Stetner.

Em um grupo fechado de alunos, também houve dezenas de críticas. ;Isso é sintomático de uma política distante da disputa de consciência e pautada na abordagem individual personalista. E isso nunca vai ser uma vergonha para vocês, mas para o movimento estudantil de esquerda deste lugar, que acaba tendo de se ver representado assim;, postou um deles.

O presidente do 11, Luís Fernando Gonçalves, disse ao jornal paulista que o coletivo pede desculpas pela forma como o documento foi exposto, mas defendeu a lista. ;Como movimento estudantil, uma das tarefas centrais é conseguir fazer com que outras pessoas entrem nessa engrenagem.; Ele reconheceu que parte dos membros do coletivo é ligada ao PT, mas disse que há diferentes correntes na gestão.

Em nota oficial, o diretor da Faculdade de Direito, Floriano de Azevedo Marques Neto, disse que ;rejeita veementemente qualquer tipo de preconceito, segregação, intolerância ou classificação desabonadora a membros da comunidade ou em detrimento de quem for;.