Brasil

Construções com uso de contêineres viram tendência no Brasil

Arquitetos explicam que transformar contêineres marítimos em base para casas pode ser confortável e até mais barato do que construir uma moradia convencional

Tatiana Castro*
postado em 14/04/2018 11:40
A casa de contêineres que a arquiteta Ana Laterza construiu para morar com o marido e as duas filhas, no Lago SulNão é fácil imaginar que um contêiner de metal possa se transformar em uma casa. Mas, essa tendência, que já é bem conhecida ao redor do mundo, está ganhando espaço no Brasil e prova que viver em um gigante de metal pode ser tão confortável quanto em uma casa de alvenaria, além de ser mais sustentável e cerca de até 25% mais barato.

Dono da primeira casa feita com contêineres no Brasil, construída em 2009, na Granja Viana, em São Paulo, o arquiteto Danilo Corbas relembra que sua inspiração veio da vontade de projetar construções utilizando uma linguagem industrial. "Gerar contrastes entre o bruto do metal e o bem acabado de outros materiais, além da discussão sobre temas como espaços mínimos para habitação, sustentabilidade e baixo impacto na construção, também influenciaram na decisão de construir minha própria casa em contêiner", explica o profissional, que é dono de uma empresa especializada em construções com o material, a Container Box.

Seguindo o caminho de Corbas, a arquiteta brasiliense Ana Laterza conta que começou sua história de amor com esse tipo de arquitetura quando seus pais compraram um lote no Lago Sul e a convidaram, junto com o marido, Alessio Gallizio, para comandar o projeto da nova casa. "Eles precisavam de um lugar para deixar os móveis enquanto a obra não ficava pronta, então nós sugerimos a compra dos contêineres. Como pagamento pelo projeto, eles nos dariam os espaços e, posteriormente, nós moraríamos neles", afirma Ana.

A casa do arquiteto Danilo Corbas, em São Paulo
Foi em 2013, então com quatro contêineres marítimos, que começou a reforma para transformar o material rústico em um lar para Ana, seu marido e as duas filhas. Inicialmente, a ideia era poder "levar embora" a casa quando eles comprassem o próprio lote. "A gente não tinha muito dinheiro no começo, então fizemos nós mesmos as instalações, pintura, e tudo o que a gente tinha capacidade de fazer. Foi um ótimo aprendizado e valeu super a pena", conta Ana.


Vantagens


Engana-se quem pensa que não é viável fazer do contêiner um lar. É preciso ter alguns cuidados no acabamento da casa, claro, mas, segundo Ana, o espaço de metal é "super confortável". Bom isolamento térmico, boa ventilação e isolamento acústico são algumas das principais preocupações na hora de projetar esse tipo de moradia, explica a arquiteta.

Para Corbas, a rapidez na construção, o custo, a sustentabilidade e a mobilidade são as grandes vantagens da casa-contêiner. O custo pode chegar a 25% menos, e é possível desmontar e transportar para onde o dono quiser. "Na maioria dos casos, as construções representam uma diminuição no tempo de obra de mais de 50%", revela.

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Muitas vezes, os contêineres chegam às obras parcialmente adaptados, com aberturas recortadas, molduras soldadas e instalações técnicas embutidas. Pedro Grilo, arquiteto que projetou a casa-contêiner de um casal que precisava sair do aluguel com urgência, explica que esse tipo de obra "pode ter seu tempo reduzido para cerca de três meses, dependendo da habilidade do executor". Além disso, uma das vantagens desse tipo de construção é a não necessidade de aprovação do projeto para obtenção de um alvará de construção.

De acordo com Grilo, nesse caso foi realizada uma construção rápida e pequena para viabilizar a mudança do casal, que posteriormente faria uma construção maior, de alvenaria. "Dois destinos seriam possíveis para a casa: ou viraria o escritório do casal, ou seria desmontada e realocada em outro terreno, possivelmente na Chapada dos Veadeiros, para eles passarem as férias", ressalta.

Tendência

Vila na Holanda é feita de mil contêineresA casa tradicional ainda está no gosto da maioria, no entanto é possível conhecer melhor a experiência de uma casa-contêiner visitando algumas construções. Em todo o mundo, é cada vez mais comum encontrar pontos turísticos destacados com os gigantes de metal.

Na Inglaterra, por exemplo, na região portuaria de Docklands, um conglomerado de contêineres de vários formatos, encaixados flexivelmente, formam uma construção versátil, conhecida como "Container City". Já em Buenos Aires, na Argentina, o shopping Quo Container Center, construído com 57 contêineres de diversas cores, chama a atenção de turistas. Em Amsterdã, na Holanda, uma empresa concluiu a maior vila mundial de contêineres, em 2006, que tem, ao todo, mil unidades.

Mas, futuramente, não será preciso sair de Brasília para visitar um estabelecimento que seja feito de contêineres. Segundo William Veras, sócio de um escritório de arquitetura comercial na capital federal, um dos mais novos projetos da empresa é um bar construído com contêineres, na beira do Lago Paranoá. "É um projeto bem bacana, onde vai ser feita uma ambientação super aconchegante com o tema marítimo. Estamos utilizando o contêiner, inclusive, em um deck superior, numa área que será uma espécie de lounge, com uma maravilhosa vista do lago", confirma.

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Construção


Os contêineres utilizados nas construções não são novidade. Eles costumam ser descartados depois de décadas de uso como transporte de grandes cargas marítimas. Sobre o tempo de vida dos contêineres após o uso, Corbas calcula que, com a devida manutenção, uma casa-contêiner dura, cerca de cem anos. "É comum ver estruturas metálicas com mais de cem ou duzentos anos, e o contêiner também é uma estrutura metálica", afirmou.

Apesar das facilidades que uma casa do tipo pode agregar, os arquitetos explicam que é preciso realizar um bom projeto antes de iniciar as obras. "Tenho visto alguns casos onde o proprietário se aventura a construir sem projeto ou, mesmo com o projeto em mãos, mas sem um responsável técnico pela obra. Isso é extremamente perigoso", alerta Cobra. Segundo ele, é válido adquirir uma casa-contêiner se houver uma real identificação com o sistema construtivo, "com a linguagem e com a responsabilidade com o meio ambiente", pontua.

*Estagiária sob supervisão de Ana Letícia Leão.

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