Brasil

Especialistas desmentem boato de inverno mais rigoroso dos últimos 100 anos

"Não há expectativa de frio extremo para o Brasil este ano", afirmou ao Correio Alexandre Nascimento, meteorologista do Climatempo

Ingrid Soares, Andressa Paulino*
postado em 23/04/2018 20:18
Inverno poderá ser mais rigoroso em relação ao do ano passado

Na última semana, notícias de que o inverno seria o mais rigoroso dos últimos 100 anos, devido ao fenômeno La Niña, circularam na internet. A notícia viralizou até mesmo em outros países. No entanto, quem estiver na expectativa de frio extremo, pode se decepcionar. Isso porque neste ano, especialistas preveem um inverno um pouco mais quente do que a média no país. Segundo o Climatempo, os principais centros de análise de monitoramento de fenômenos oceânicos mostram que o El Niño e La Niña não estarão presentes no decorrer do outono/inverno de 2018 no Hemisfério Sul e Norte.

O coordenador geral de meteorologia do Inmet, Expedito Rebello, afirma que trata-se de uma notícia falsa, com uma chance remota. "Não dá para dizer que teremos o inverno mais frio de 100 anos. Só dá para prever com maior exatidão entre 5 a 7 dias, a partir daí, o resto é chute. Pode até ser que aconteça, mas é extremamente difícil", salienta.

Segundo ele, a última massa de ar intensa ocorreu em julho de 1975, há 43 anos. "Deu uma geada generalizada e acabou principalmente com cafezais em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso. O governo teve de subir as culturas de café para Minas Gerais e Espírito Santo. Mas, em uma situação de frio extremo, estamos preparados para avisar caso ocorra", explica.

De acordo com o professor de geografia, especialista em climatologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Henrique Jardim, afirmar que o inverno será o mais frio dos últimos 100 anos é exagero. "Há uma tendência na redução de temperatura desde 1998, e é possível que ela se mantenha nas próximas duas décadas. Contudo, não existe nenhuma projeção que demonstre que esse será o inverno mais frio", assegura.
O professor explica que essa tendência se justifica por dois fatores e, segundo estudos anteriores, a temperatura ficará na média já prevista. "Grande parte dessa redução de temperatura se dá pelo resfriamento do Oceano Pacífico e pela redução de atividade solar. Mas, esses dois eventos são cíclicos, têm um período de duração", analisa. "O que poderemos observar nesse inverno são picos de frio, que é habitual. Na década de 80, por exemplo, a temperatura chegou a 3;C", constata.
O meteorologista do Climatempo Alexandre Nascimento relata que as águas do Pacífico estão um pouco mais quentes do que o normal e, com isso, se espera um inverno dentro da normalidade. "Não há expectativa de frio extremo para o Brasil este ano. Vamos ter, sim, alguns eventos de frio intenso, alguns dias de geada forte no Sul, algum evento de geada em estados como Mato Grosso do Sul e São Paulo, mas nada muito fora do que normalmente ocorre nestas estações", revela.

Previsão do tempo

Para os moradores do Sul, Sudeste e do Centro-Oeste que aguardam o feriado de 1; de maio, a tendência é de sol, pouca chance de chuva, noites frescas e tardes quentes. A chuva deve se concentrar no Norte, Nordeste e no extremo sul da Região Sul. Já na segunda quinzena de maio, o centro-sul do país vai começar a sentir os primeiros dias mais frios do outono de 2018. Nas regiões mais elevadas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a expectativa é de temperaturas abaixo de zero.

Em grande parte da segunda quinzena de maio, a sensação será de frio nas capitais Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Campo Grande e Cuiabá. Ondas de frio fortes e de grande extensão avançam sobre o Brasil durante o mês de junho, com potencial para resfriar as áreas do centro-norte das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, afirma o Climatempo.

Morgana Almeida, meteorologista do Inmet, observa que em, comparação ao ano passado, o inverno poderá ser mais rigoroso. "Se analisar o padrão atmosférico dos últimos quatro anos, foram mais quentes. Mas, a partir do final do ano de 2017 e do início de 2018, estivemos sob o fenômeno La Niña, que reduz a questão das chuvas no sul, favorece a incursão de massas de ar frio pelo centro do país, o que contribui para temperaturas mais baixas. Sob uma análise do fenômeno, das condições atmosféricas e oceânicas, pode ser que este ano seja relativamente mais frio do que o ano passado", analisa.

Faltando cerca de dois meses para o começo do inverno, há quem já esteja tirando o casaco do guarda-roupa. É o caso da assistente operacional Hercília Gonçalves, de 20 anos. "Ultimamente estou saindo sempre com um casaco. Já estou pensando no inverno, não sei se estou preparada para o frio que vai vir", conta. Ela não acreditou muito nas notícias de que seria o pior frio dos últimos cem anos. "Acredito que vai ser bem frio, mas no máximo 5;C a menos. Nada fora do que a gente já está acostumado", diz.

Distrito Federal


Segundo Morgana, a tendência no Distrito Federal é que a temperatura aumente durante o dia e ao pôr-do-sol, diminua. A mínima fica entre 15; a 16; ao amanhecer e a máxima é de 27;C a 28;C até o início de maio. Até o final desta semana, a umidade varia entre 90 a 30%.


Frio no Brasil

Cronologia das ondas de frio
  • 18 de junho de 1899
  • 19 de agosto de 1902
  • 25 de junho de 1918
  • 18 de julho de 1975 (a mais intensa)
  • 31 de maio de 1979
  • 21 de julho de 1981
  • 26 de junho de 1994/10 de julho de 1994
  • julho de 1999
  • julho de 2001
Fonte:Inmet.

*Estagiária sob supervisão de Ana Letícia Leão.

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