Brasil

Número de brasileiros que se declaram negros sobe 6% entre 2016 e 2017

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua, do IBGE, mostram que 17,8 milhões de pessoas se autodeclaram negros

Otávio Augusto, Bruno Santa Rita*
postado em 27/04/2018 06:00

Fernanda, professora:

;Isso é aceitação.; A frase é da professora de educação física Fernanda Trajano dos Santos, 26 anos. Ela se autodeclara negra. Junto dela, tem outros 17,8 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad). O número de brasileiros que se declaram negros subiu 6% entre 2016 e 2017. O aumento vem sendo observado desde 2015, quando os brancos deixaram de ser maioria no Brasil. O número de cidadãos que se consideram pardos também aumentou. A alta foi de 1%, totalizando 96,9 milhões. Já o número de brancos caiu 0,6%, para 90,379 milhões. Comparando com o início da realização da pesquisa, em 2012, os autodeclarados pretos cresceram 21,8%. Já o total de pardos aumentou 7,7%, e o de brancos caiu 2,4%.

Nem sempre se assumir negro ou pardo foi fácil. Vítimas de preconceito e discriminação, muitos preferiram um dia mascarar a raça. Fernanda explica o que está ocorrendo. ;Isso significa um maior grau de conscientização. Estamos reconhecendo que somos negros;, argumenta. Ela acredita que sempre existirá preconceito contra os negros, porém de forma mais branda. ;Temos novas leis, as próprias faculdades estão se politizando para o assunto;, comemora. No DF, 61% das pessoas se declaram negras ou pardas.

[SAIBAMAIS]Antônio de Pádua, presidente da Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas), entidade que trabalha questões do movimento negro e de periferias, acredita que a busca por direitos e autoafirmação faz com que mais pessoas se identifiquem como negras. ;A militância dos movimentos sociais têm influenciado esse aumento. A difusão da cultura negra na sociedade também colabora, e o jovem tem carregado isso com mais força;, explica.

Para ele, o preconceito é impulsionado pelo coletivo. ;Quando se cria um padrão de cabelo, roupa e comportamento, a sociedade automaticamente tem uma reação de renegar o diferente. O mercado do marketing é responsável por isso. É raro ver um modelo negro liderando uma campanha publicitária. Na televisão, não temos artistas negros nem professores negros na universidade;, destaca.

Idosos

A população idosa brasileira cresceu a uma média de 1 milhão por ano de 2012 a 2017. Nos últimos cinco anos, a população com 60 anos ou mais subiu de 25,4 milhões para 30,2 milhões ; alta de 18,8%. A maior concentração de idosos foi registrada das regiões Sul e Sudeste, com 16,5% e 16%, respectivamente. No Brasil, essa faixa etária representa 14,6%. As regiões com menor percentual de idosos são o Norte (9,7%) e o Centro-Oeste (12,7%). O Nordeste registrou 13,6% de habitantes acima de 60 anos, de acordo com a pesquisa.

Na capital federal, o número de habitantes com 60 anos ou mais, que estava em declínio desde 2015, voltou a aumentar, chegando a 12% de crescimento. A analista do IBGE Maria Lúcia Vieira, gerente da Pnad, classifica a estatística como ;esperada;. ;É um fenômeno que está acontecendo no mundo todo. Está havendo o aumento da expectativa de vida, e as pessoas não estão nascendo;, explica.

Para a costureira Maria José de Melo, 65 anos, os investimentos em políticas públicas, como no transporte, precisam aumentar. ;Não há uma organização nos ônibus para abrigar os idosos com responsabilidade. Ficamos todos amontoados sem passar a catraca;, reclama. Ela conta que pega ônibus da Asa Sul para a Asa Norte e sempre se depara com essa situação. ;A cidade não está preparada para lidar com o aumento do número de idosos;, pondera. (OA e BSR)

*Estagiário sob a supervisão de Roberto Fonseca

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