Brasil

Venezuelanos refugiados ganham novos destinos e chances no Brasil

Governo federal dá início à segunda etapa do processo de interiorização de migrantes que entraram pela fronteira em Roraima e estavam em Boa Vista. Desta vez, foram enviadas 69 pessoas para São Paulo e outras 164 para Manaus

Gabriela Vinhal - Enviada especial
postado em 05/05/2018 07:00

Pablo entrou no Brasil há três meses:


Boa Vista ; ;Tenho uma filha de um ano e pais mais idosos que dependem de mim. O emprego vai me ajudar a enviar dinheiro para que eles possam sobreviver, porque o governo de lá (Venezuela) está acabando com tudo.; O depoimento é do venezuelano Pablo Manzol, de apenas 20 anos, um dos 69 migrantes enviados para São Paulo durante a segunda etapa da interiorização de refugiados no país, que ocorreu ontem, em Boa Vista. Além da capital paulista, foram deslocados também 164 pessoas a Manaus, em uma aeronave Boeing 767, da Força Aérea Brasileira.

A interiorização é uma medida voluntária e o destino do migrante é definido por meio de um perfil específico ; famílias e idosos vão à capital amazonense e solteiros à cidade paulista. Os estados escolhidos para o acolhimento são determinados após negociação prévia entre o governo e lideranças. Todas as pessoas que aceitam participar da interiorização passam por exames de saúde, recebem vacinas, são abrigados na cidade de deslocamento e acompanhados até o abrigo.

Pablo chegou ao país há três meses. Entrou pela fronteira de Pacaraima e seguiu viagem a Boa Vista de ônibus. Ele agradeceu o carinho da acolhida dos brasileiros que conheceu pelo caminho, sobretudo dos agentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que o ajudaram a ;melhorar sua situação de vida;. ;Várias pessoas me deram comida e a ONU me deu informação. E ela é muito valiosa. Quero aprender português e trazer minha família para morar comigo;, disse, ainda tímido por não conseguir falar o idioma muito bem.

O general Eduardo Pazuello, comandante da base de apoio logístico do Exército e coordenador da forca-tarefa humanitária do governo em Roraima, afirmou que a iniciativa busca ajudar venezuelanos a procurar novas oportunidades em outras localidades do Brasil. ;Nosso objetivo é dar dignidade, moradia e comida a eles. Queremos inseri-los, o quanto antes, no mercado de trabalho. O Brasil é um país que gosta de acolher os refugiados e não vamos fechar essa porta;, completou.

Acolhimento
Milhares de venezuelanos chegam por mês a Boa Vista em busca de refúgio. Os oito abrigos que existem na capital roraimense ainda não comportam a quantidade de migrantes que buscam por um lar. Com vagas para 4 mil pessoas, os centros de acolhimento se encontram lotados. Na localidade, há, ao todo, 7 mil refugiados, sendo que 1,3 mil deles estão completamente desassistidos pelo estado e vivem em situação de rua.

Para o general Pazuello, essa situação deve ser revertida até a primeira quinzena de maio, quando serão implementadas novas medidas para desocupar a Praça Bolívar e serão inaugurados mais dois abrigos na cidade. ;Trazer a normalidade de volta para nosso estado vai diminuir a sensação de pedintes na rua. A cidade vai voltar ao normal, com mais segurança, e a população poderá viver mais tranquilamente;, acrescentou.

Segundo a pesquisa mais recente, realizada pela Agência das Nações Unidas para as Migrações (OIM), entre janeiro e março deste ano, com 3.516 entrevistados, 52% dos venezuelanos em Boa Vista e Pacaraima têm ensino médio completo, enquanto 26% têm ensino superior e 2%, pós-graduação. A primeira fase da interiorização foi realizada em 5 e 6 de abril, quando 265 venezuelanos foram transferidos a São Paulo (199) e a Cuiabá (66).

A repórter viajou a convite da Casa Civil da Presidência da República

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