postado em 21/06/2018 11:31
Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, não queria perder a aula dessa quarta-feira (20/6). Ele acordou às 8h, atrasado, e saiu apressado em um caminho que não durava mais de 20 minutos. Correndo como naquele dia, seriam só 15 minutos, mas ele foi baleado e . Para a família, o Estado é o culpado pela morte.
Minutos depois que Marcos Vinicius saiu de casa na manhã dessa quarta-feira, teve início uma operação da Polícia Civil no Complexo da Maré, onde ele nasceu e foi criado. Segundo a corporação, a ação buscava o cumprimento de 23 mandados de prisão e prender os suspeitos de terem participado da morte do chefe de operações da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). Houve tiroteio, e outras seis pessoas morreram.
Morador da Vila Pinheiro, o adolescente percebeu que não conseguiria cruzar a comunidade em meio aos tiros e chegar até o Centro Integrado de Educação Pública Operário Vicente Mariano, onde estudava. Ele decidiu voltar para casa, mas foi atingido nesse percurso.
A história é narrada pelos pais de Marcos Vinicius, que foram hoje ao Instituto Médico Legal (IML) liberar seu corpo. José Gerson da Silva, de 37 anos, trabalhava como pedreiro quando recebeu a notícia, de uma vizinha.
"Ele já estava próximo de casa. Só precisava andar mais uns 100 metros e já estaria seguro", conta ele, que só conseguiu ver o filho quando já estava entubado, no Hospital Getúlio Vargas, na zona norte do Rio.
A mãe, Bruna da Silva, de 36 anos, conseguiu conversar com o filho quando ele estava na Unidade de Pronto Atendimento, pelo telefone.
"Ele falou ;ô, mãe, eu nunca mais quero sentir essa dor na minha vida;. Eu falei ;meu filho, fica quietinho e não fala, pra não entrar ar;. Ele disse ;mãe, eu to com sede;. Meu filho morreu com sede".
Indignada, a diarista culpa a polícia pela morte do filho. Os pais de Marcos Vinicius afirmam que testemunhas disseram a eles que os tiros teriam partido de um blindado, que se deparou com Marcos Vinicius na rua e atirou. Bruna afirma ainda que a polícia chegou a impedir que a ambulância entrasse para socorrê-lo na comunidade.
"Não pode mais isso acontecer, chega de alvejar criança. Eles entram na comunidade para destruir famílias", disse a mãe, que tem uma filha mais nova. "Tenho uma caçula de 12 anos, e minha filha está chorando e falando ;eu não tenho mais irmão, tiraram meu irmão;. O que eu posso fazer?", disse.
A mãe do adolescente afirmou que pensa em processar o Estado e não pretende se calar diante do crime. "Eu espero Justiça. Eu não sei se vai haver. Calaram meu filho, mas a mãe não calaram e por ele eu vou falar. Se eu tiver que processar o estado, eu vou processar. Pra não ficar impune".
O pai conta que o filho era alegre e queria ser MC. "Ele gostava muito de funk mas não deu tempo", lamenta José, informado. "Ele estava uniformizado. Como uma pessoa não vai enxergar um uniforme?"
O secretário municipal de educação, César Benjamin, foi ao IML acompanhar a liberação do corpo do adolescente, que estudava em uma escola municipal. Segundo Benjamin, o Palácio da Cidade , sede da prefeitura, está à disposição da família para o velório. O enterro deve ser no Cemitério do Caju.