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Surto de toxoplasmose assusta município gaúcho há quase três meses

Desde março, 569 pessoas tiveram diagnóstico confirmado em Santa Maria

postado em 28/06/2018 19:04
Quase três meses após a notificação dos primeiros casos de toxoplasmose em Santa Maria (RS), o surto da doença no município gaúcho continua preocupando médicos e autoridades sanitárias. De março até agora, 569 pessoas tiveram diagnóstico confirmado e 312 casos estão sob investigação. Segundo o Ministério Público Federal, os números já configuram o maior surto de toxoplasmose do mundo.

[SAIBAMAIS]O alerta maior é entre gestantes ; pelo menos 50 receberam resultado positivo para a doença e 145 apresentaram sintomas e também estão sendo investigadas. Além disso, cinco abortos espontâneos provocados pela infecção foram contabilizados. A toxoplasmose é transmitida ao feto pela mãe e, quando não provoca a morte do bebê, causa efeitos permanentes à criança, como cegueira e comprometimento neurológico.

Infectologistas e a própria Secretaria de Saúde do município cobram do governo federal mais apoio financeiro. No Hospital Universitário de Santa Maria, onde a maior parte dos pacientes, incluindo gestantes infectadas com toxoplasmose, recebe atendimento, faltam insumos, remédios e testes diagnósticos capazes de confirmar laboratorialmente a doença ; etapa fundamental para o início do tratamento.

;Ouço muito falar em gestão. Mas será que tem como fazer gestão com tão pouco orçamento? Tem. Tem como fazer gestão com pouco orçamento. Mas e quando há um imprevisto? A gente precisa de reforço nesse orçamento;, avaliou a secretária de Saúde de Santa Maria, Liliane Mello Duarte, durante audiência pública nesta quinta-feira (28/6) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. ;Viemos pedir apoio. O ministério participou da investigação a partir do dia 26 [de abril], está participando de forma importante, mas nós precisamos de mais.;

Ausência de protocolo

Outro problema é que, em meio às centenas de casos de infecção confirmados na cidade, profissionais de saúde não contam com o chamado Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a doença. O documento estabeleceria critérios claros de diagnóstico e tratamento da toxoplasmose, com as doses adequadas de medicamentos e os mecanismos para monitoramento clínico.

Infectologista há 20 anos, Alexandre Schwarzbold participou da audiência pública via videoconferência e disse estar acostumado a ver casos de toxoplasmose. Ele garante, entretanto, que o surto em Santa Maria apresenta particularidades importantes e grande impacto social, já que a doença apresenta alto índice de mortalidade entre crianças pequenas e recém-nascidos.

;Estamos diante de uma situação ambiental não documentada;, disse, ao se referir à possibilidade de a fonte do surto estar ligada à água e alimentos contaminados e ofertados no próprio município. ;Isso serve de modelo de oportunidade para que o ministério estabeleça um protocolo pra essa doença, um protocolo amplo, desde prevenção, insumos diagnósticos e disponibilização de medicamentos.;

Alerta para novas gestações

A também infectologista Jane Margarete Costa acompanha com preocupação o surto no município. Via videoconferência, ela destacou o trabalho de mutirão de profissionais de saúde para dar conta da demanda de gestantes infectadas em Santa Maria. O tratamento, nesses casos, deve ser iniciado o quanto antes e mantido até o final da gravidez. Mulheres com mais de 18 semanas de gestação com resultado positivo para toxoplasmose recebem um coquetel de 11 medicamentos na tentativa de proteger o feto de sequelas mais graves.

Segundo a infectologista, as orientações para a população geral e para as grávidas, particularmente, incluem não beber água in natura, apenas fervida; não consumir alimentos crus; e manter as carnes devidamente refrigeradas e, posteriormente, cozinhá-las muito bem cozidas antes do consumo. Durante a audiência pública, a médica chegou a sugerir que novas gestações sejam evitadas até que a situação no município se normalize.

;Como técnica da área de saúde, eu reafirmo: em hipótese alguma, podemos passar para a população uma ideia de segurança quanto a fontes ambientais, água, alimentos. Todas as pessoas têm que manter cuidados preconizados;, disse, ao cobrar o que chamou de mudança de paradigmas. ;Há um risco de 25% de contaminação do feto no primeiro trimestre, quando pelo menos a metade dos casos vai resultar em aborto e os outros terão sequelas importantes.;


Demandas

Ao final da audiência, uma lista de demandas foi entregue ao Ministério da Saúde: a adoção de um protocolo nacional de diretrizes terapêuticas em casos de epidemia de toxoplasmose; o reforço da verba para o Hospital Universitário de Santa Maria; definição de diretrizes para a realização de exame mensal da doença durante o pré-natal; e a detecção da toxoplasmose no teste do pezinho, além da promoção de uma política de prevenção da doença nacionalmente.

Durante o debate, o secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Osnei Okumoto, garantiu o que chamou de envolvimento da pasta no monitoramento e no controle do surto de toxoplasmose em Santa Maria. Ele disse que mantém conversas com a Secretaria de Ciência e Tecnologia no intuito de conseguir mais verba e investimentos para o combate à doença no município gaúcho.

Por meio de nota, a pasta informou que o surto tem como causa provável a contaminação pela água, com possível contaminação de hortaliças como causa secundária. O parecer foi apresentado ao estado e ao município na última terça-feira (26/6), após análise dos dados do estudo de caso feito por uma equipe do ministério em conjunto com os gestores locais.

;Vale ressaltar que as outras possíveis causas comuns em casos de toxoplasmose foram eliminadas durante a pesquisa, como carne bovina, de frango e queijos, entre outros alimentos. No entanto, a investigação continuará sendo realizada;, concluiu o comunicado.

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